Abrindo as portas.

Seja bem-vindo(a) ao meu Labirinto!
Aqui criador e criaturas se fundem e confundem até o mais astuto ser. Olhe querendo ver e não tema o que pode ser visto, afinal luxo e lixo diferem em somente uma letra - nem tão diferentes assim. Uma dica: Se perca para se achar. Se ache e pouco se dará a permissão para perder-se. Permita-se as permissões a bem das possibilidades.
Bom mergulho andarilho(a)!

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Dáfri.k - Esse metro...

Dáfri.k - Esse metro...

Confesso que não curto metro. Nem aqui e nem em lugar nenhum. Não curto e pronto. Uso, reconheço suas vantagens, mas não curto.
A coisa piora mais ainda quando preciso entrar em uma estação e fazer um sem fim de baldiações para chegar ao meu destino.
Ontem foi assim.
Revistas, recortes de jornal, balas, mochila com máquina fotográfica (nunca se sabe quando pintará um furo), tenis e disposição.
A primeira estação foi Vila Madalena. Nada além do esperado. Pessoas com cara de "não quero mais viver, Olivier", pessoas com fase apressadas, estressadas, desengonçadas e por aí vai. Claro que tem muita gente bonita, pele sedosa e até uns e outros tarados encoxadores de plantão. Esses, inclusive, merecem um capítulo à parte, mas não hoje. Não agora.
A ida foi tranquila. O metro mostra muito o interno. As ruas te dão um mundo de possibilidades de visões e argumentações, mas o metro é só o interno, é focado. E quem sabe conta: Difícil achar um interno fácil de ler. A grande maioria é bagunçada por natureza (morta).
Na volta parei na plataforma, abri um recorte que me fora recomendado afim de me levantar a bola da autoestima como escritor: - Porra, Aderlei, olha essa crônica da Folha e me diga se você não escreve melhor que isso! O cara roda mais que pinto no lixo e não come nada! Você coloca poesia, lirismo e faz analogias de cair o queixo.
Amigos... Sempre queridos, bem vindos. Uma pena, a exemplo das mães, usarem lente de contato cor de rosa.
O texto do recorte poderia ser taxado como ruim, mas ao identificar a técnica usada posso dizer: É bom. Sobretudo porque é muito difícil escrever naquele estilo e o camarada o faz com maestria, Usando um único personagem conta cinco histórias, sendo que a primeira - a história que abre e justifica o texto - é citada em todas elas e é justamente ela quem fecha a crônica. É uma rede que tem que ser muito bem tramada para que o resultado final fique interessante. Uma outra característica é que a leitura tem que ser dinâmica, pois o ritmo impresso é bem rápido. E como conseguir isso? Pontuação! Não me canso de dizer: Peguem tudo que já foi ensinado sobre pontuação na língua portuguesa, use como base e, ao desenvolver crônicas e afins, use uma pontuação que fique o mais próximo possível da sua fala ou da fala que quer dar ao personagem. Escreva como quem escreve para um ator interpretar, dê um sem fim de dicas de interpretação e postura.
Mas voltando...
Na volta parei na plataforma, abri um recorte que me fora recomendado e iniciei a leitura. Não findei o primeiro parágrafo e senti olhos sobre mim. Sem muita noção do que fazia, leventei a cabeça e vi o olhar e o sorriso daquela mulher.
Um olhar franco emoldurado por um timido sorriso de somente esticar lábios.
Castanhos na castanha dos olhos e vermelhos pitanga acerejada nas carnes que somente uma bela e imponente negra pode ter.
Sua altura era mediana, sua roupa com estilo pessoal e sua postura relaxada.
Casaco skatista branco, calça social listrada em tons de cinza e tênis. Amo mulher de salto, mas naquele momento passei a amar mulheres de tênis.
Ela gostou de mim? Não creio! Quem gostaria de mim?
Meu pessimismo é algo ímpar, mas acho que ela gostou de mim.
Eu estava com barba por fazer, uma calça muito larga (e suja), uma camisa polo surrada (e suja), um tênis de skatista que nada tinha a ver comigo (e sujo) e um casaco enorme (e sujo) que mais parecia apropriado para o frio do Canadá. Não de Sampa.
Olhei mais algumas vezes, ela se movimentava para facilitar a passagem de outros e me olhava. O mesmo sorriso, o mesmo brilho, o mesmo estilo, a mesma moldura.
Não cheguei perto o suficiente para sentir seu perfume, mas seguramente era o mesmo perfume que usaria uma rainha africana ao ser tirada de seu povo e jogada, como escrava, no povo de outros. Perfume com cheiro de vida, sangue que pulsa, ar que gira ao rarefazer-se entre o calor e o frio do outro.
Não acreditei que ela me olhava, mas a olhei. Uma deusa negra. Uma mulher viva e cheia de marcas da vida. Uma selvagem que, me parecia, adentrar a savana quase todos os dias para prover seu sustento e a poesia sustentável de sua tribo.
Acabei a leitura e me dediquei somente a ela.
Descemos na primeira baldiação. A minha vontade foi de passar um cartão e pedir que me ligasse, mas a timidez permitiria nada além de um, tão fechado quanto sol vespertino em manhã de outono, "tchau". Claro que eu falaria isso e correria, à mil por hora, para esconder o olhar dentro do peito. Abaixaria a cabeça sem esperar a resposta. A receberia telegrafada nas batidas do meu coração.
Nada fiz, mas consegui, ao menos, não correr. Mantive-me relativamente ao lado dela.
Saimos do vagão, subimos a escada rolante. Eu poderia, nessa hora, falar do universo liquidificado que gira na minha cabeça.
Eu poderia, e sei que por conta dos seus olhares e sorrisos que seria acolhido, pegar em sua mão e dizer - Vem! Em nome do Rei, seu pai, eu, Sir Aderlei, do Piscinão da Praia de Ramos, a protegerei até o próximo reino!
Tolice. A timidez é um virus que gera uma crise de paralesia quando mais precisamos estar em movimentos.
Uma vez uma pessoa querida disse: Não quero que você reaja às minhas ações, quero reagir às suas. Pode me virar de ponta cabeça, eu aguento. E até quero isso, mas quero se eu puder ser reação da sua ação.
Pensei isso ainda subindo as escadas, mas e aí? Cadê a porra do movimento que a fará reagir? De certo que a pequena já se mostrou disponível, disposta e à disposição, mas cadê o macho que acenderá o fogo e o levará tão próximo ao pavio que fará a explosão ser a reação de sua ação?
Adoraria dizer que fui, voltei e fiz o mundo da guria girar. Mas não... Andamos, qual crianças, lado a lado. Eu calado e ela sorrindo. Será que notou minha timidez de menino quando me olhou por ver a postura de um homem? Lado a lado... Sem nada dizer. Putz! Cabia dizer algo diante de tão parnasiana poesia?
Claro que cabia! Afinal, somos humanos e só olhar não apetece. E se assim for... Esquece!
Sinto, mas não esqueci.
A escada acabara, virei à esquerda já sem querer o momento da despedida.
Ela não era de seguir multidões, por isso - talvez - virou à direita. Foi-se?
Nos encontramos na descida para a plataforma seguinte.
Acredito que ela ficou chateada por eu ter seguido a multidão. Não parou imediatamente ao meu lado, mas parou, na diagonal, um pouco à minha frente.
Pronto! Não nos olharemos mais. Cheguei a pensar em pedir desculpas por esse meu jeito um tanto timido e que, algumas vezes, segue sim a multidão. Mas enfatizaria que isso é somente estratégia de guerra e atuação, no fundo sou bem sozinho com a minha próprio interna multidão. Ainda complementaria relembrando, sorrindo, o nosso primeiro papo ainda dentro da primeira baldiação: - Universo liquidificado, lembra?
Ririamos e mulher brava quando ri... Acabou a raiva. Pode abraçar e beijar que ela deixa.
Não passou a primeira estação, de cinco, e ela olhou para trás. Meu coração banhou-se na cachoeira da complacência, lavou-se nas pedras da concordância e meus olhos a olharam mais uma vez. É, eu a vi.
Nos olhamos, mas nessa hora vi que ambos tinham o arco-iris da timidez. O mesmo que se forma com o fenômeno do borrifo da água do desejo incindindo na luz da esperança.
Não tive nenhum pensamento que me fizesse escrever agora com ou sem poesia. Apenas a olhei e como eu insisti, ela abaixou sua cabeça para que as águas da timidez a banhassem a nuca fervente, acalmassem  o coração Olodumnhense. Mesmo à uns três metros dela pude ouvir o Carlinhos gritar: - tá com sede? - Quem quer água? - Olha, olha, olha, olha, olha, olha a água mineral, água mineral... Era uma bagunça só.
Eu, por pouco, não entrei nesse trio elétrico ao ver seu pescoço torneado e lindo. Preto como os mistérios da noite, lindo com aquele brilho da lua, de lado, nada muito forte, a me mostrar a jugular.
Sim, queria ser um destemido vampiro para a hipnotizar e levá-la comigo.
O que não percebi era que não precisaria tanto. Ele já estava tomada, faltava a tal da ação que geraria a maldita reação de mandá-la vir comigo.
- Escuta. Não pega o seu trem. Mude o caminho, pega o meu e vem comigo.
Era simples. Não ocuparia nem um quinto da cena, não exigiria muita luz e equipe grande para rodar o longa de nossas simples vidas simples.
Wood Allen faria comédia intelectual de nossa timidez, mas Almadovar nos faria amar por mil dias sem parar. Quero dizer, nós não pararíamos, mas todo o mundo giraria fingindo parar. No meio da transa uma vizinha totalmente errada na vida e abandonada pelo quinto marido viria nos comentar algo sem importância alguma, um vizinho machão revelaria que é gay e o próprio Almadóvar daria o jeito dele para, como sempre, fazer figuração em nosso filme dele.
As cinco estações chegaram. Ainda descemos juntos, ainda andamos juntos por um bom caminho, mas nos separamos quando ela descidiu ir para Corinthians-Itaquera e eu para outra baldiação.
Ela não olhou para trás e sinceramente eu também não olharia, afinal ele (eu) teve mais de vinte estações, mais de 70 olhadelas, mais de 30 reposicionamentos e mais de 10 sorrisos para vir e me tomar. Não veio? Que vá me comentar no blog, oras!
Pois é. É duro ser timido.
Farei mais que comentar no blog, escreverei para ti aqui quantas vezes meu coração pedir, deusa d'África.
Dáfri.k é teu nome, rainha, e a ti devoto minha habilidade de escritor, minha mente de trocador e meu coração de poeta.

Amém!

AsF12510

E assim, para que ninguém reivindique o nome ou mesmo fantasie achando que as escritas são para si, nasce Dáfri.K a minha mais nova paixão.
Ps ² Pronúncia: Dáfrika

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