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quinta-feira, 29 de julho de 2010

E a largada?!

E a largada?!
É lôco, muito lôco.

No Super Bike Series a imprensa pega o seu credenciamento até dois dias antes da corrida.
É comum, no dia do treino você estar lá tanto para pegar a credencial quanto para já fazer algumas tomadas e adiantar o seu trabalho. Foto nunca é demais e no meu caso que só tenho uma máquina - e que já passou dos 100.000 cliques, e que já baixou manutenção duas vezes, e que já me deixou na mão no início de uma competição - nunca se sabe o dia do amanhã.
Assim, entenderíamos que não há muita emoção cobrir um campeonato de motovelocidade. Ledo engano.
Nos treinos o seu contato com os pilotos é estreito, pessoal e até comum. Não há estrelas e todos são iguais.
Nos treinos, você aproveita para cobrir algum buraco dos releases e coletar, ou confirmar, uma ou outra informação.
Mas treino é só treino e cada um está focado no seu.
No dia da corrida, chega-se cedo, vai-se à sala de imprensa para cumprimentar a todos (o networking é fundamental, pois se você perde algo, pode pegar com alguém), pegar o colete que autoriza fotografar direto das pistas e circular por todas as áreas.
É claro que o seu corpo está frio, o sono ainda impera e o ritmo cresce devagar.
Ao sair da sala de imprensa, já devidamente "uniformizado", a máquina começa a disparar para a portaria, para os fundos dos boxes e para o nada. É verdade, no início éramos todos pó. rs Você fica sem saber muito bem o que fazer.
Por padrão, eu entro sempre pelo último box e vou andando até o primeiro. Cumprimento os pilotos que não tenho intimidade com um sorriso timido e faço tietagem naqueles que admiro e mantenho um laço menos formal.
Cachorrão é um desses. Chego no box, abraço, faço carinho, pergunto como estão as expectativas, desejo boa sorte e saio sem me demorar, afinal é o dia da corrida e os últimos preparativos estão em andamento.
Nessa "conferência de tropa" é comum também aproveitar para fotografar as belas modelos que acompanham os pilotos.
Quando você conhece a modelo, há uma troca muito justa: Você pode pedir a pose que precisa para ilustrar seu trabalho e em troca enviar, depois, as fotos para ela usar no portfólio dela (mais um networking).
Aliás, ter amizade com modelos facilita mais que somente ilustrar. No pódio e nos box elas podem virar sutilmente os pilotos para que você tenha um melhor ângulo.
Feito isso é hora de cobrir a chegada dos espectadores, rodar um pouco até a hora da largada e preparar o coração para cobrir a corrida em si.

No horário combinado os pilotos vão para a pista. É bonito de ver a pista perfeita com aquelas motos, cada uma em seu lugar.
Os pilotos parecem cavaleiros a espera de uma batalha.
Seus auxiliares, mecânicos e modelos estão todos em volta. Além das últimas instruções, recebem as últimas atenções.
Tem piloto que fecha os olhos e medita, outros ficam super ligados e a adrenalina é percebida até pelo nariz humano.
Outros ficam sozinhos. São aqueles hérois anônimos que investem tudo para estar ali e por falta de patrocínio, grana e outras mais, ficam sem mecânico, staff ou modelo à sua volta. Ninguém.
A imprensa foca nas primeiras filas. É, os melhores são os mais vistos, bajulados e procurados. É como se a corrida fosse para eles. São as figuras principais. Todos os outros são coadjuvantes.
Não se divertem menos, mas seguramente quereriam mais.

Aos poucos, as placas de tempo vão mudando e logo a de 5 minutos vira 1.
Antes dessa placa eu tenho que estar longe, posicionado no local que escolhi para cobrir a largada.
Geralmente saio correndo feito um louco, me posiciono e espero ansiosamente.

A largada é feita e o coração vai à boca com o ensurdecedor som dos motores roncando.
Os cliques acontecem, mas a vontade é de fechar os olhos e sentir aquele turbilhão de energia que sopra na sua direção.
Os dedos tremem, o corpo é posicionado para acompanhar o piloto principal, as pernas fincam no chão e os olhos não piscam até que o último passe.
A "experiência" ensina que é melhor, no meu caso, usar o clique-by-click, mas algumas vezes já deixei o dedo apertado de tanta emoção.

Os cavaleiros passam na sua lente como Arthur, em suas muitas versões, já passou na tela da minha tv.
É clicar, é clicar, é compulsivamente clicar.
Sem medo, sem desespero, mas muito nervoso.
Analogia? Consigo rezar o Pai Nosso, mas dificilmente chego até o Amém! A emoção não deixa e o foco muda a cada instante.

Quando os pilotos somem é hora de conferir o visor. Se as fotos ficaram boas mudo de ponto, se não, cubro mais uma volta.
Os pontos vão mudando a cada volta e o intuito é estar na largada na última volta.
Isso só não funciona quando há queda no seu ângulo de cobertura, esperar o resgate e cobrir todo o procedimento de retirada leva tempo e tempo é precioso.
Quando tudo corre bem, na última volta estou na chegada e pronto para não somente cobrir o vencedor, mas igualmente para pedir "zerinho" (fritar pneus e soltar bastante fumaça).
Outra e forte emoção é ver o vencedor, cansado, descer feliz da moto e cumprimentar sua equipe. É preciso sangue frio para fotografar ao invés de comemorar.
Ainda é preciso cobrir o pódio e a coletiva de imprensa, baixar as fotos para o micro e conferir se realmente ficaram boas e... ir embora.

Já na sala de imprensa o colete é devolvido, as bolsas laterais (para guardar as lentes) são desmontadas, a máquina é guardada e o Super Homem volta a ser Clark Kent. Um sonho lindo que tenho muito orgulho de realizar.

Em casa vejo a corrida na hora de baixar as fotos e, geralmente, fica infeliz com as fotos que poderiam ter saído melhores e muito, mas muito, feliz com as fotos que são padrão nesse tipo de evento. As comparo com a de outros profissionais e me sinto "o cara" quando vejo que tive a mesma visão que eles, ou seja, profissional.
Porém, nada me deixa mais feliz do que observar aquelas fotos que somente eu fiz, que somente eu vi, que somente eu ousei.
Fotos com arte que fogem do lugar comum, fotos com brilho diferente ou fotos que eu tenho como fotos minhas.

Loucura, mas isso vicia. rs

Ilustro com uma foto incomum e que eu gosto muito.

(e não, ainda não consegui fazer a última obra de agost. Mas... já tenho algo rascunhado *sorriso*)

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