Abrindo as portas.

Seja bem-vindo(a) ao meu Labirinto!
Aqui criador e criaturas se fundem e confundem até o mais astuto ser. Olhe querendo ver e não tema o que pode ser visto, afinal luxo e lixo diferem em somente uma letra - nem tão diferentes assim. Uma dica: Se perca para se achar. Se ache e pouco se dará a permissão para perder-se. Permita-se as permissões a bem das possibilidades.
Bom mergulho andarilho(a)!

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

05. A Casa de Madalena - A banheira

05. A casa de Madalena - A banheira
Calor, calor, muito calor. Entrei feito um furacão. Fui até a máquina de escrever, beijei meu pai. Não me deu atenção e balbuciou algo. Fui até o outro canto, a máquina de costura rodava sua polia ao comando dos pequenos, e belos, pés de minha mãe. Ela parecia uma bailarina de pé. Sentada fazia gostoso e ritmado movimento de vai e vem. Puro erotismo em uma ato tão simples, ritmado e único. Vem pano, vai linha, comanda o pé. Vai pano. Recebe agulha. Deixa linha. Comanda o pé. Esquerdo. Agulha entra. Agulha sai e o pé, impiedosamente, empurra mais. Comanda um batalhão de forças para furar um pano tão simples quanto o que jazia sobre a mesa. Ao final ficaria lindo, mas aquela que o usasse não fazia ideia do quanto ele sofreu para estar embelezando seu corpo. Seres humanos. Arrumam as desculpas mais absurdas para ferir o que quer que seja. Não fala? Pode me servir? Não é humano? E vale a cadeia alimentar...
Beijei minha mãe e esta me perguntou como foi o dia. Perguntou sem querer saber e eu disse: - normal. Sem querer contar.
Passei pela mesa de canto, que ficava jogada num canto mais não era jogada para outro canto, como o lixo, só porque veio de Paris? Te incomoda eu falar isso sempre? Problema seu. A mesa é problema meu. Tem mais atenção que eu e fica tão quieta num canto quanto eu. Só que eu não vim. Sozinha. De Paris...
Vaguei qual soldado ferido e exausto depois de uma batalha intensa e que somente o general levaria as honras e fui banhar-me no rio. Aos pés de uma bela e alta cachoeira. Mada não demore, vamos almoçar já. Disse meu pai. Ah hã. disse eu sem soltar muito som. Que fique claro e registrado nos altos: Eu não confirmei e muito menos aceitei nada. Apenas disse ah hã. Continuei minha senda. Marcha soldado, cabeça de papel...
Queria ser reprovada no vestibular de psicanalista só para tentar direito. Processaria meu pai por maus tratos. Ele abusa de mim quando fala tão baixo que eu não posso ouvir.
Entrei com tudo no banheiro. Fui tirando a roupa, conferi gordura, aferi celulites e liguei a banheira.
Bem que ela podia estar pronta. Muita espuma, umas duas velas em forma de flores boiando e ja acessas, alguma pétalas de rosa vermelha, um belo arranjo sobre a pia e uma felpuda toalha a minha espera. Não foi assim que estava, mas foi assim que sonhei. Bhoeme gritando com a explorada da empregada operacional e mandando ela preparar tudo mais rápido porque eu estaria chegando. Correria, pois eu estava perto e quando eu chegasse tudo deveria estar mais que perfeito. Eu gostava de luxo e diferente da minha mãe, assumia isso. Não usaria o nome de meu pai e sua comodidade para ter o que eu queria.
Quando eu pisasse na banheira tomaria uma susto ao sentir algo em meus pés. Ah Bhoeme... Que belo colar de pérolas, amor...
Ele sorriria entendendo que atingiu seu alvo com perfeição. O abraçaria bem forte e quando eu fosse beija-lo ele olharia para a explorada com cara feia e mesmo vendo o sorriso dela a colocaria para fora.
Antes de sair ela ainda perguntaria, posso servir a mesa, senhora Madalena? Eu diria que sim, mas Bhoeme riria e diria que não. Mostrando seu cativante sorriso diria que o colocar era nada perto do que havia para mim no quarto...
Eu sorriria mais que a explorada e me sentiria feliz.
tóc, tóc, tóc. Madaaaaaaa, espero que o banho esteja sendo frio. Não demore e, por favor, não use a banheira!!!
Meu pai era uma estraga prazeres. Agora estava decidido. Eu seria advogada e o processaria. Não satisfeita escreveria três livros. Em um: A história da filha que foi explorada pelo pai, usada como empregada pela mãe e operacionalizada pela empregada. No dois: Saiba como fazer sua mãe ser sua mãe em dez lições. Esse seria um daqueles livros que vendem horrores, propõem e ensinar tudo de forma rápida, mas não ensinam nada nem de forma lenta. No terceiro: Empregada é tudo assim mesmo. Usaria tudo que meu pai já falou para defender a Cinira, a empregada, e colocaria num livro em que ao titulo seria muito melhor que seu conteúdo.
Desliguei a água da banheira, abri o frio chuveiro e fui tomar banho de ducha. Horas forte, com força, horas fraca com constância. Refresquei.

MadalenaDee
Mada por parte de pai, Lena pela da mãe e Dee por pura rebeldia.
Para os íntimos, Ma da. Para os inimigos, Me dá. Para os neutros MadalenaDee.

By
Aderlei Ferreira
09/FEV/2006

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