Abrindo as portas.

Seja bem-vindo(a) ao meu Labirinto!
Aqui criador e criaturas se fundem e confundem até o mais astuto ser. Olhe querendo ver e não tema o que pode ser visto, afinal luxo e lixo diferem em somente uma letra - nem tão diferentes assim. Uma dica: Se perca para se achar. Se ache e pouco se dará a permissão para perder-se. Permita-se as permissões a bem das possibilidades.
Bom mergulho andarilho(a)!

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Carteado no morro de Santa Tereza

Trancada, no escuro ela sentia o breu de seu quarto.
Pingava desejos, ansiava sonhos, mas sua mente não estava vazia.
Ela percebeu-se uma taça de vinho sem vinho. Tinto! Tinta?
Queria um vermelho-especial-e-só-seu, mas nada podia ser só. Seu.

A escuridão ficava mais escura. Sua pupila não dilatava, seu peito dilacerava, seu coração desacelerava. Não se preocupava, era ruim demais para morrer e boa demais para viver. Limbo qual vinagre. Algo que é aproveitado por ter ido e não ter voltado.

Ela. Ali. Não estava só. Mas estava, naquele exato instante, só consigo.
Claro que os pensamentos eram muitos. Óbvio que sua arrogância e pedantismo - sem a menor impedância de ondas - faziam com que ela pensasse em tudo, menos em sua real situação. Só.

- Ninguém está só, filha.
Diria sua finada vózinha-linda-e-adorada. Mas isso depois de morta, enterrada a sete palmos e longe de todos, porque antes era uma velha chata e rabujenta. Só.

Impressiona como ela ainda consegue, ao menos ela, viver consigo mesma naquele quarto? Como coube? Um quarto tão pequeno em si.
Bem, pequeno no físico, pois na soberba de suas vontades seria de um tamanho maior do "daquela uma sem sentido". Sim, todos eram sem sentido. Só.

Não havia lágrimas para escorrer. Ela eram mais que isso e estava, segura, acima disso.
Não havia perdão.
Não havia carência.
Ela se bastava. Só.
E estava tão distante, tão longe da casinha, que nem mesmo ela conseguia entender seu reflexo no espelho.

Ele estava só.

Não o espelho. Não ela.

Só.

Mas não era um só de sozinha. Era um só diferente e paradoxalmente tão comum.
Um só de quem veste tudo que o mundo pode dar(?) e ainda assim não se toca que é a mais nua das criaturas.
Um só de "sem perdão". Que isso?
Um só de... só.
Algo que fica difícil escrever dado o peso das palavras e o medo do castigo que vai a cavalo e o pecado que mora bem ao lado. Só.

Ela, no escuro do seu quarto, sem a pupila dilatar, mas com o coração a desacelerar, está só.
Eu - só - vejo isso pela janela do meu quarto. Só.

Nenhum comentário:

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails