Abrindo as portas.

Seja bem-vindo(a) ao meu Labirinto!
Aqui criador e criaturas se fundem e confundem até o mais astuto ser. Olhe querendo ver e não tema o que pode ser visto, afinal luxo e lixo diferem em somente uma letra - nem tão diferentes assim. Uma dica: Se perca para se achar. Se ache e pouco se dará a permissão para perder-se. Permita-se as permissões a bem das possibilidades.
Bom mergulho andarilho(a)!

domingo, 18 de janeiro de 2009

O Vampiro e a menina de louça

O Vampiro e a menina de louça


Perto e dentro. Próximo e vivo. Sujo e atento. Esperto e astuto. Teu? Do mundo?
- A que vieste viajante?
Perguntarias inocente, deixando-me ver o brilho de curiosidade em teu olhar e o sorrido que exporia seus pequenos dentes amarelos. Ainda balançando a frágil boneca de louça esperaria minha resposta.
- Vim em busca de mais escuridão fora de minha luz.
Responderia puxando meu cavalo escuro e fixando meus negros olhos em ti. Meu sorriso de canto de boca e ares de lua cheia a encantaram...
- Sejas bem vindo viajante... (curva-se na mais perfeita e educada reverência) Minha casa é logo ali. Meu pai morreu e vivemos eu, minha mãe e mais duas irmãs já mais crescidas que eu.
Assim tu passas "tua ficha" e convida o vampiro a entrar em tua morada e ser o Senhor de teu lar.
No fundo sabes o que está fazendo e fazes por acreditar que essa é a única saída para o marasmo de dias em épocas medievais.

*
* *

Adentro tua morada como “o viajante”.
Bebo água e vinho, como carne de bicho fresco, sorrio e a meia noite, degusto tua mãe, uso tuas irmãs e te levo comigo.
- Te ofertastes e agora serás minha serva criança! Digo olhando em teus cinzas olhos azuis, de um negro ímpar e pouco visto. O cavalo galopava alto... O vento batia forte e teus cabelos alisavam meu rosto.
Tu sorri, pois esse era o seu sonho: Ser a Princesa das sombras na escuridão do meu lado sem luz da noite.
Tua família? *sorriso* Sempre foi a noite e suas muitas estrelas, e suas muitas luas - e fases - e suas muitas criaturas.
Aquela não era sua mãe e sim a mulher que pariu vosso corpo.
Sua mãe estava ali com você no colo e pronto para te usar como mulher, como bicho no cio, como serva. Pronto para sentir seu cheiro assim como um jardineiro sente o de uma flor ao sugar seu perfume depois de prepará-la por tempos a fio. A preparei para o tempo certo, certo de que nada faria antes senão lhe preparar.
Os dias seguintes? Sim, você cresceu ainda mais, aprendeu a manipular a sua energia e de outros, e prosperou, e foi além.
Seu anfitrião - Pai e Mãe - fora pego numa emboscada e antes de ir eu disse:
- Se me desejares, volto em outra passagem. Não morro, apenas descanso esse corpo... Usa o que te ensinei para viver e se guardar para mim. Franqueia teu corpo a outro, doa teu coração a outro, mas reserve sua alma para mim... Dono e Senhor é único, amantes podem ser vários e vários ao mesmo tempo.
Sem tempo parti. Ele se foi... já na escuridão, caminhei para as sombras.
Meus olhos fecharam, meu corpo fora guardado a sete palmos. Missas e outros rituais foram profanados em meu nome. Seu mundo me temia, meu mundo a possuía.
Ele se foi... Por um tempo. Muito? Pouco? Não... Apenas um tempo.

*
* *


A volta chega. Sua presença é sentida. O cheiro de sexo - e enxofre - paira no ar e... é Ele!
- Mon Maître? Seigneur!
O francês era provençal, mas a alegria vinha num idioma muito bem entendido. Era bem vinda e se fazia presente!
Com o mesmo sorriso amarelo adianta-se para corrigir sua fala e ainda curvada sobre as pernas cruzadas em reverência, ainda de cabeça baixa e ainda com os mesmos olhos, o mesmo olhar:
- ou será que devo dizer "Monsieur"? Fala e sai da reverência mesclando "intimidades" e adoração.
Ele nada falou. Abraçamo-nos tão apertado que a força de dez homens, que eu carregava em mim, poderia quebrar-lhe os frágeis ossos...
Nos olhamos e eu disse:
- Ainda não vim para ficar. Vim ver-te e dizer que sempre estive e estarei convosco menina-da-face-de-louça.
Se olharam mais um pouco. Ela entendeu, deixou fazer uma trilha de lágrimas em seu rosto, abaixou a cabeça e disse:
- Ainda sou tua mon Maître e serei até quando me quiserdes, nobre e não esquecido Seigneur.
- Ainda sou teu, se ainda és minha, mas precisa viver o mundo que é seu e não deixar o passado simplesmente passar. Tens poderes, e força, e luz! Usa-os em benefício próprio. Guarda teu prazer, na dor, para mim. Guarda o que é reservado a mim para mim. O resto presenteie ao resto...
Reserva-te para mim e sugue, do mundo, o que o mundo vos permitir sugar. Piedade é para outros e não deve constar em teu dicionário das sombras.
Assim eu sumi na escuridão da floresta negra e a promessa de voltar fora renovada.
Viva, entre os mortos, ela permaneceu nas lembranças de um tempo que não há certeza de volta. E Ele, das sombras, do seu lado escuro da noite, estava para ela assim como a noite está para o dia.

ॐAderlei ॐGanoN
22.mar.2005

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