Abrindo as portas.

Seja bem-vindo(a) ao meu Labirinto!
Aqui criador e criaturas se fundem e confundem até o mais astuto ser. Olhe querendo ver e não tema o que pode ser visto, afinal luxo e lixo diferem em somente uma letra - nem tão diferentes assim. Uma dica: Se perca para se achar. Se ache e pouco se dará a permissão para perder-se. Permita-se as permissões a bem das possibilidades.
Bom mergulho andarilho(a)!

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Negra - a viúva 01

Negra - a viúva 01
Primeiro ele - o marido

Apesar de seus pais não medirem mais que 1,60cm ele chegou aos 1,83 já aos 13 anos de idade.
Tez amorenada, olhar pequeno, fixo e bem arredondado. Claro.
Cabelos ainda negros, porte elegante. Esguio.
Sem músculos desenhados, sem ombros largos, sem gestos grosseiros.
A voz era grave, firme, pausada em muitos pontos. Ele falava e olhava fixamente buscando as reações de seu interlocutor.

Ainda muito jovem aprendeu o ofício de manipular o aço. De ajudante passou a empresário quando, insatisfeito com aquela rotina embaralhada e geradora de pouco salário, propos ao padrão fazer o serviço em casa, com máquina própria e por um preço melhor.
Quando o patrão aceitou, ele propos comprar uma máquina do patrão e ajeitou o negócio.
Astutamente - e sob protesto - levou o melhor torneiro mecânico com ele e logo já fazia serviços para outras empresas.
O crescimento nunca parou, de uma empresa de fundo de quintal, ele criou a maior metalúrgica da américa latina e competia diretamente com empresas de todo o mundo.
Aquele homem era estranhamente mais pontual que um relógio suiço, mas regrado e tão cheio de procedimentos quanto um comandante de avião em vôo intercontinental.

Todos os dias, tudo acontecia dentro de uma rígida rotina e sem a menor possibilidade de alteração, improvisso.
Durante a semana levantava da cama às 6 horas, tomava um banho de 15 minutos, às 6:30 entrava na cozinha, pegava uma xícara grande com café (as empregadas deixavam o café pronto e saiam da cozinha, ele gostava de acreditar que estava sozinho em casa, assim todos viviam pelos cantos e por trás dele).
Xícara na mão, ele ia até a sala pegava o jornal (que devia estar intacto, dobrado sempre do mesmo jeito e à espera dele no mesmo lugar) e seguia para o escritório. Lá pegava dois cigarros (os únicos que ele fumaria no dia) e seguia para o banheiro do escritório. Ligava o CD do banheiro e ouvia as mesmas músicas de sempre. Periodicamente as mudava, mas essas já tocavam há mais de 5 anos.
Sentado no vazo sanitário, ele tomava, vagarosamente, o café, fumava os dois cigarros e lia o jornal. Não todo. As partes preferidas eram o caderno financeiro, o de fofocas da sociedade, o de atualidades e os classificados.
Nas muitas piadas que fazia para si mesmo (e somente para si) dizia que aquilo era o ato de fazer a reciclagem do banco de dados e servidores. Download de restos e upload de novas informações.
Mas a verdade é que seu café se resumia a dois cigarros, um jornal, uma xícara de café e um bolo fecal.

Sempre pontual, às 7:45 ele tomava um novo banho de 5 minutos e saia de casa às 8 horas da manhã.
Nunca faltava, nunca atrasava, nunca mudava.
Mesmo o percurso levando trinta minutos, ele chegava às 8:45.
Por 15 minutos ficava cerrado na sala e quando saía ia pedindo coisas, chamando gente e tocando o dia. Essa parte era a única sem uma rotina fechada, mas ainda assim seguia uma lógica padronizada. De manhã delegava, após o almoço cobrava e entre as 16 e as 18 horas fazia as reuniões. Sempre curtas, diretas e com resultados.
Ele simplesmente não tolerava pessoas que falassem demais ou que saissem do foco principal com assuntos pessoais. Não falava de sua vida e não queria saber da vida de ninguém. Quero dizer, ele era observador o suficiente para saber de tudo sem que o outro precisasse falar.
Era tão calado, nas reuniões, que ficava invisível, assim, todos falavam demais entre si e era o suificiente para que ele soubesse de tudo um pouco.
Suas vestimentas eram clássicas. Segundo ele, a melhor maneira de passar invisível era usando o clássico, mas com todo aquele ar de mistério aquele homem não passava invisível em lugar algum.
Trabalhava até às 18:30 e às segundas, quartas e sextas, jogava tenis após o trabalho, às terças passava na livraria para pegar algum livro e às quintas ficavam reservadas para imprevistos ou coisas corrigueiras como experimentar uma roupa, comprar alguma coisa, jantar com algum cliente, fornecedor ou um de seus pouquíssimos amigos.
Os finais de semana eram, igualmente estruturados dentro de uma rotina rígida.
No primeiro final de semana do mês, fazenda.
Chegava à noite, sentava na varanda, acendia um charuto (o único do mês) e ficava, por volta de duas horas, olhando para o céu e ao seu redor.
Na manhã de sábado saia por volta das 8 horas da manhã, para o meio do mato e voltava às 11:30. Ao meio dia sentava à mesa. Queria sempre pratos triviais feitos no fogão à lenha.
Interessante que ao contratar a cozinheira, passou seus horários e o que comia, mas nunca sugeriu um único prato. Apenas sentava e comia. Nuncapediu, nunca reclamou do que veio.
Ainda no início, quando a cozinheira perguntava se o prato estava bom, a resposta era um seco e inquieto sim.
Ela parou de perguntar quando o administrador disse que o melhor elogio que ela podia receber era ele sentar à mesa e comer tudo.
No segundo final de semana ia para algum lugar novo. Nesse final de semana não havia rotina alguma. Ele virava outra pessoa. Todos os horários ficavam ao léu.
A única rotina que ele seguia era o ritual de antes de dormir.
Ele sentava na varanda (nunca aceitava hospedar-se em hoteis com quartos sem varanda) com um copo de água (aproximandamente 500ml). Levava exatamente 30 minutos para consumir aquela água. Fazia isso e dali ia direto para a cama. Mais meia hora de leitura e sono.
Talvez você queira saber o que ele lia, não?
Eu respondo.
Ele era apaixonado por histórias de seres humanos. Lia incansavelmente narrativas de fatos reais.
Não importava se eram dramas, histórias de superação ou simples biografias. Ele lia, gostava e geralmente repetia a leitura alguns meses depois.
Por falar em leitura, uma vez por ano doava toda a sua biblioteca e levava exatamente um ano para preencher o espaço de cada lacuna nas estantes.
Seu carro (o único). Um jaguar.
Seus sapatos. Italianos feitos sob encomenda.
Seus ternos. Feitos na mesma família.
Importante dizer que o alfaiate, que já era o filho, pois que o pai morrera, tentou mudar de profissão várias vezes. Ele nunca deixou.
Encomedava ternos para si, para seus diretores e até para empregados, mas não deixava o alfaiate sem serviço.
Medo de quebrar a rotina? Aquele homem não parecia ser do tipo que temia o medo. Para mim estava claro que ele não tinha medo do medo de ter medo.
Na terceira semana ele ficava na cidade. Dentro do mesmo sistema. Ouvir ou ver jazz na noite de sexta. Leitura em toda a manhã de sábado, sono na parte da tarde e teatro à noite.
Na manhã de domingo, ele passava toda a manhã no escritório. Conferia as contas da casa, escrevia coisas que ninguém lia (seria um livro mostrando o ser humano que ele era?). Na parte da tarde, exposição e cinema.
Na quarta semana ia para o litoral. No sábado ou ia velejar, o que fazia com destreza ímpar, em seu pequeno barco ou sentava na barraca da praia e... era onde aquele homem mais falava. Ficava horas a fio conversando com o barraqueiro.
Segundo ele aquele nordestino era sábio e homens assim merecem ser ouvidos, melhor, era uma dádiva poder ouvir homens assim. Vai entender.
Quando velejava o fazia por horas e, depois de estar bem distante da costa simplesmente deixava o barco à deriva. Não deitava, não olhava. Apenas deixava o barco se ir com ele.

No trato com o outro era educadíssimo. Quando tinha que falar, falava, mas somenteo suficiente para fazer o outro falar mais ainda.

O que mais posso dizer desse homem? Nada. Esse é ele. O marido.

Agora posso falar dela - a esposa

Com salto, 1,75cm de altura, pele clara, cabelos loiros, coxa torneada nas muitas sessões de ginástica, yoga, danças circulares sagradas caminhadas.
O rosto era de alguém com bem menos idade que ela, mas algo chamava a atenção:
Imaginem um cadeia/cela onde só dá para ver as grades.
Um corredor escuro, as grades na contra luz e todo o resto negro lá dentro.
Ela não tinha cara de má, não tinha o ar pré-temporal-sem-aviso-prévio costumeiro a quem é do mal, mas ela não tinha cara de boa gente.
Estava claro que ela era uma madame de muitas viagens, muitos continentes e nenhuma necessidade de pão.
Sua pele, seu rosto, seu sorriso, seus cabelos e corpo deixavam claro: Nunca passei necessidade, nunca tive problemas, nunca recebi um não ou mesmo talvez.
Ela sabia pedir? Nem tanto.
A verdade é que aquele tipo de mulher não chega a precisar pedir. Quem chega perto dela quer agradar e, para tanto, não respeita as regras que seriam comuns a todos. Cedem pelo simples - e apurado - prazer de ceder a alguém como ela. É assim: Os "de baixo" querem ser bem vistos pelos de cima. Sorrir é mais que natural. Sorrir, para alguém como ela, era quase que uma reação involuntária. Fazer cara de boboda corte, também. Babar? Nem se fala.
Entendam que ela não era "todo mundo". Era o topo de uma cadeia alimentar que se reservara uma fatia infima do melhor entre o melhor.
Sua voz era bonita, mas pouco audível.
Seu rosto era triangular, queixos bem desenhados e orelhas pequenas. Coladas à cabeça.
Seu caminhar era silencioso. Às vezes.
Seu caminhar era música para muitos de seus súditos.
Ela era admirada por todos.
Sua beleza realmente encantava, mas pare. Se a sua ideia de beleza é algo proveniente de revistas de moda ou as austeras monarquias, esquece. Com aquela mulher nasceu um novo estilo de beleza onde a mulher tem tantas curvas quanto uma modelo, tanta beleza quanto uma elegante mulher de revista e mais: Um ar que convida à morte. Mas isso só para aqueles que tiverem a sorte.
Inicialmente estudou engenharia química, mas depois de anos de formada (e exercer a profissão), deu uma guinada na vida e fez biomedicina.
Nas horas vagas auxiliava na administração de uma casa de caridade para crianças portadoras de doenças crônicas terminais e ainda arrumava tempo para administrar, dirigir e controlar uma companhia teatral onde toda a renda era revertida para essa casa de caridade.
Sua rotina não era tão rígida, mas até por formação, sabia muito bem como administrar o que caia em seu colo ou sabia que tinha que fazer.
Não foi difícil, nessa vida, apreender que adequação é uma palavra importante e mais importante ainda é cumprir com o combinado (mesmo quando esse combinado não foi explicitamente combinado).
Ela sabia que nem todo contrato é selado com assinatura em papel ou aperto de mãos. Alguns são selados com a permanência (de ambos). Ela permanecia. Pagava o preço por ter assinado, com a permanência, um contrato combinadamente tácito.

Tenho mais para falar dela - tanto quanto falei dele - porém o farei no decorrer de um rio que desaguará num mar. Isso é tão certo quanto o açucar é solúvel na água. Uma dança (açucar e água) que começa branca, bonita, azuladamente diamantada e acaba com uma das partes sumida (o açucar) e a outra adoçada (a água).
Um casamento tão bem selado e harmonizado que comumnte só vimos um, mas ao provar (ou provocar) sentimos que são dois em uno.


Como se conheceram?

Ela tinha 29 anos de idade quando ele, aos 46, teve um problema de saúde e fora parar no hospital onde ela trabalhava cobrindo um plantão que não era eu.
Ele calado, observador, ávido por ver o interlocutor falar cruza com ela.
Ela calada, observadora, ávida por ver o interlocutor falar. Cruzou com ele.
Por padrão ela não tinha contato direto com os pacientes, mas devido a um impasse técnico ela fora chamada para melhor explicar alguns números (de medicamentos e exames) ao médico. Este estava no quarto do homem que futuramente seria seu marido.

Ela entrou com cópias dos medicamentos e exames.
Foi apresentada ao paciente.
Verbalmente entregou sua explicação, desfez o nó do impasse, pediu licensa, cumprimentou a todos de uma só vez e saiu com mais um pedido de licensa.
Ela saiu do quarto desconfortável. O ar daquele homem a penetrara fundo. Foi como um tiro que não mata, uma flecha que não sangra, um amor que ainda não explodiu após queimar todo o pavio da paixão.
Em verdade, aquela troca de olhar implantou uma bomba relógio dentro de ambos.
Seria só uma questão de tempo para que a explosão deixasse a ambos cegos, surdos e falantes.
Sei que o ditado é que dois bicudos não se beijam, mas pergunto: Dois calados se falam?


Um mês. Do primeiro olhar a união de corpos.

Após a saída dela daquele quarto e a saída do médico aquele homem ficou inquieto. Era aquela mulher.
Ela mexeu com ele. Estava claro que algo acontecera, masele não sabia o que.
A melhor maneira de descobrir foi pedir para chamar aquela mulher de novo.
Só que, por uma questão zodiacal (muitas vezes, para explicar coisas sem explicações lógicas, o zodíaco é bem melhor que o Google), aquele homem pensava mais do que falava, na vida pessoal demorava para tomar decisões (seria esse o motivo de tão rígida rotina?). Assim, quando ele resolveu pedir para chamá-la, claro, ela já tinha ido embora.
Já na manhã seguinte a alta hospitalar se fez justa, pois sua entrada era para exames e não para moradia. Por outro lado, para não quebrar a sua rotina ele aceitou fazer os exames à noite. Entrou numa noite e saiu na manhã seguinte direto para o trabalho. Lembram que ele nunca faltou? Pois é. Nem por saúde.
O ponteiro do relógio da vida não para. Quase uma semana seguem até que ele reencontra o médico "amigo" e, com muito jeito para não despertar interesse, pergunta sobre a moça que sanou as dúvidas no hospital. O amigo não somente disse que ela estava bem como ainda apresentou o lado caridoso daquela mulher falando sobre o seu trabalho em uma instituição de caridade.
Ele não pensou duas vezes para usar a vaga da quinta e passar, pessoalmente, na tal instituição.
O amor nos faz trabalhar para que o trabalho justifique o amor de amar.
Ele não encontrou a mulher, mas foi astuto e deixou seu cartão. Claro, ela não ligou.
Inquieto, sem receber a ligação dela, ele sai mais cedo do trabalho e vai à instituição.
Por favor, não confunda sair mais cedo com nunca faltar ao trabalho.
Ele saia mais cedo, às vezes.
Nunca entrava mais tarde, nunca faltava, atrasava ou ligava.
- Oi.
- Oi.
Ela o recebera no balcão. Não o convidou para sua sala e foi tão seca quanto uma cuica fora do carnaval. Algo meio sem sentido.
- Deixei um cartão meu. Ele falou e calou.
Ela o olhou, calada estava calada permaneceu.
Sim, o gelo dentro de si era grande. Aquele homem mexia com ela, mas dai a se jogar nos braços dele era uma outra história.
Ele continua. - Você não me ligou.
Ela resolve colocá-lo no lugar dele.
- Recebi seu cartão e o aviso para ligar, mas nenhum porque. O deixei de lado.
Estranho.
Depois dessa fala ambos calam. O diálogo segue no olhar, na respiração, nas mãos que, em algum lugar, tocam um frenético samba do criolo doido.
Um homem incomum.
Depois de alguns segundos (que mais pareceram uma eternidade)conversando no olhar, cada um falando de suas vivências, sorrindo das experiências um do outro e trocando confidências, ele dá as costas e sai.
Sim, sim, sim. Simples assim: Ela respondeu, se olham por muito tempo e ele dá as costas e sai.
Antes dele chegar à porta ela também já havia dado as suas costas.
Dois dias, ele recebe uma ligação, era ela.
Não pediu desculpas, afinal falaram tanto com o olhar que a intimidade era algo comum.
Sem a rede do olhar para apoiar o salto do trapezista a conversa foi curta, mas produtiva. Era dia de teatro. Ele convidou e ela aceitou.
Inicialmente, como toda tola-mulher-moderna, ela quis ir no carro dela. le, mesmo educadíssimo, quase foi grosso.
- De modo algum. A pego e a levo em casa.
Ela tremeu diante daquela voz firme e aquele ato masculinamente sedutor, afinal a mulher usa cueca porque os homens, cada vez mais estão usando nada (dizer que usam calcinha é até uma ofensa à mulheres que fazem o mundo girar com seus esforços).
A peça foi primorosa. Sabe qual foi o tema? Ser humano.
Primorosa, comovente, única.
Do teatro, sem perguntar nda a ela, ele a levou a um restaurante.
Bom atendimento, boa comida e excelente vinho. Tudo pedido para harmonizar com a conversa de olhares. Era assim que ees melhor trocavam.
Mas claro que falaram da peça.
Interessante que mesmo ambos conhecendo o elenco nenhum dos dois comentou esse fato, aliás ele tinha algo peculiar. Nunca acrescentava adjetivos, posses ou qualquer outro dado que comumente usamos para fazer a referência a alguém.
Do jantar ainda se olharam mais um pouco e ela pediu para ir. Teria que trabalhar na manhã seguinte.
Na porta dela se olharam por muito mais tempo que qualquer casal afoito, em uma prima saída, transa.
Foi ali, foi com aquele olhar que ele, sem dizer uma palavra, a pediu em casamento.
Foi ali, foi com aquele olhar que ela, sem dizer uma palavra, aceitou o pedido.
Explico:
Depois de muito se olharem, ele ligou o carro, seguiu até a casa dele.
Ela entrou, achou a casa bonita, decoração limpa, simples, mas imponente. Tudo muito claro iluminado pelo escuro.
Quer mais estranheza?
Eles conversaram por um tempo na sala, ele a levou para o quarto de hospede, lhe desejou boa noite e deu as costas.
Não, a estranheza não está aí. Está aqui:
Ela agradeceu os votos de boa noite, lhe deu as costas antes dele virar por completo, tomou um rápido banho e deitou-se.
Dormiu? Você dormiria?
Ela dormiu. Claro que auxiliada por um dormonide, mas dormiu.
Na manhã seguinte, quando ela saiu do quarto ele estava na sala. Ao vê-la mostrou o caminho da sala de café e seguiram.
Ela tomou seu café, ele informou que a levaria ao trabalho e assim foi.
Ele pede para que ela ligue para ele quando saisse para que ele a pegasse, ela concorda com a cabeça e desce do carro.
Mil folhas seriam poucas para contar as horas que passaram entre o descer do carro e ligar para ele ao sair do trabalho.
Talvez eu consiga resumir em uma linha, melhor, em uma palavra:
Liquidificador. Só essa basta.
Esse sistema se repetiu por quase um mês até que ele diz que ela deve se mudar para a casa dele.
A única coisa que ela, direta e secamente, pergunta:
- Isso é um convite para morar junto ou um pedido de casamento?
Ele olhou para ela por tanto tempo que o ponteiro do relógio girou algumas vezes.
- Se eu quisesse morar junto com você a colocaria no meu quarto e não no quarto de hospedes.
Foi ele, em seu tempo, que providencia a mudança, os papéis para o casamento e a toma, com as graças de Deus, como sua esposa.

O relacionamento - deles

É difícil relatar a vida de duas pessoas que falam quase nada, olham a quase tudo e se acreditam felizes assim.
Desde o casamento eles se entendiam muitíssimo bem.
Ele falava pouco, mas falava.
Ela falava pouco, mas falava.
E se você acredita que, em um casamento, a comunicação é somente através da fala, se engana.
Era de impressionar, aos mais falantes, como aquele casal se falava tão pouco com o uso da verbalização das palavras e tagarelavam tanto com o uso do olhar, dos gestos, da trocade energia.
Sei, você quer um exemplo.
O jantar era regado à música clássica em volume quase inaldível, bastava um aorde mai alto para que um olhsse para o outro e começassem a conversar com o olhar.
Os olhares não eram apaixonados, mas eram, além de intensos, muito verdadeiros. Estava claro que não se tratava de um casalzinho passando uma chuva em nome de um bate papo interessante e uma trepada que fazia gozar. Só gozar, porque nesses casos o orgasmo é um artigo de luxo não encontrado na lojinha de luxo da esquina.
Podi encomendar, mas só chegava quando a entrega era real ou... a transa era fra de um padrão entendido como comum.
É verdade, o incmum pode gerar prazeres pouco visitados, mas almejados por toda a vida.
Ele tinha a rotin dele, ela tinha a rotina dela. Eram dois planetas dentro do mesmo sistema solar.
Dois planetas com eclipses diáros.
Cada um tinha a sua rotina, seu sistema de órbita e suas próprias crenças.
Com o casamento, ele pediu que ela parasse de trabalhar no período noturno no mesmo instante em que ela apresentou a carta de demissão dos hospitais onde fazia plantão noturno.
Ele mudou a rotina, passando a chegar mais cedo e casa no mesmo dia em que ela havio ensaiado para fazer esse pedido.
Eles eram assim: Sincronicidade.


Ele se foi - sozinho

Eles estavam casados há dez anos. Ela gozava 39 primaveras e ele desfrutava dos prazes da meia idade.
Nos dias de hoje, um home com 56 anos stá praticamente zerado. Tem todas as vantagens de alguém que já viveu e todas as vantagens de quem já nã se importa tanto com algumas pequenas mazelas da vida, como se maner, gerar estudos e progredir.
Essa é aquela idade onde o homem está mais preocupado em fazer belos jardins, viagens interessantes e fotografar a vida (de outros).
O sistema de vida era o mesmo. Só os dois, sónos olhares.
É claro que nesse período de dezanos muitas coisas aconteceram, como ela ter gêmeos e eles morrerem sem a meno expliação. Os dois, aos 3 mesesse foram.
A medicina não explicou, por isso alegou mau súbito.
A polícia até investigou, mas não chegou a conclusão alguma.
Em verdade, ele usou seu conhecimento e negócios com políticos para parar as investigações, ela estava tão sofrida que se cerrou em quatro paredes e, claro, sem ela ele não ficava.
Depois de dez anos, dois dias e 21 horas que eles se conheceram ele desenvolve um cancer e, da noite para o dia, se foi.
Ela simplesmente ficou completamente perdida. Quase enlouqueceu e culpou o marido por deixá-la tão só.
No sepultamento ela, com toda elegância que acabe a uma mulher como ela, só dizia baixinho:
- Eu fiz de tudo para que ficássemos bem.
- Eu fiz de tudo para que ficássemos zen.
- Eu fiz de tudo para que ficássemos...
A fala era tão baixa que ninguém ouvia mais que balbúcios.
Ela o perdera. Ela o culpava por não ser eterno enquanto ela estivesse viva.
Estranhamente aquela mulher passou a odiar o marido.
Estranhamente aquela mulher passou a odiar o homens.

Terapia, conversa com as pouquíssimas amigas que tinha, conversa com os muitos abutres que apareceram em uma hora tão delicada e com propostas mirabolantes. Os planos de negócios eram tão fantasiosos que não pecisa ser expert para ver que tudo não passava de pura fantasia mesclada a picaretagem.
Mesmo não se importando com dinheiro e sempre tido ganmho mais do que poderia gastar, aquela mulher estava tão rica que mesmo gastando muto mais do que eu posso escrever aqui aquela mulher teria mais do que poderia gastar por umas umas quatro vidas.
O defunto ainda estava quente, sem entrar no rápido e fatídico processo de decomposição quando a segunda turma apareceu. É a turma que, já ue não conseguiu emplacar negócios tentava seduzir a viúva.
Aquele desesperado ato chamou a atenção dela, mas voltaremos a eles em outra oportunidade.

A verdade é que o desequilíbrio foi total.
Aquela mulher calada realmente gostara do marido calado, mas não conseguia prdoá-lo por ter ido sem ela.
Em terapia, ela chegou a afimar que foi proposital o desenvolvimento do cancer e a ida prematura.


Acidentalmente ela mata - e tem prazer

Já se foram seis meses que o marido transitou.
Nesses seis meses a sua tese de conspiração só aumentou. Só ganhou mais argumentos.
Em partes até pela postura dos homens que a cercavam, em partes por, definitivamente, ela acreditar que o marido podia ter ficado quando partiu.
As empresas dele foram tão bem administradas e estruturadas que andavam praticamente sozinhas.
Ela seguia o sistema dele e não teve problemas para colocar cada gestor em seu lugar e fazer a produção seguir como antes.
Mas ela não participava ativamente da gestão das empresas. Voltou a trabalhar mais intensamente na profissão que nunca abandonou. Biomédica. Sendo que agora estudava um pouco mais de farmacologia.
Nada tão a fundo, apenas o suficiente para dominar assuntos que outrora ficava recolhido. Apenas uma forma de se manter ocupada. Só.

Um dia ela estava em casa e um ousado gestor a visitou, sem avisar, com a desculpa de que haviam papéis importantes para assinar e posições a assumir.
Eram 18 horas, emum primeio momento disse que ão o atenderia, mas ele insistiu, gerou um sentimento de culpa e conseguiu a atenção dela.
Inicialmente ele foi centrado, focado e educado, mas após duas horas mostrando papéis ele começou a elogiar aquela mulher.
Ao mesmo tempo que ela tem prazer naquele galanteio, igualmente sente asco daquele sujeito. Ele era homem e isso bastava para receber sua total indiferença.
Mesmo ela sendo estremamente fechada (cara de cela escura, lembra?) ele insistia. Óbvio que homem algum substituiria "the man i love", mas ele insistia.
Mulher é estranha.
Ela oferece jantar. Ali. Ele aceita e, evidente cresce.
A mesa fora postapor ela mesma. Para o marido esse ato era raro, mas naquele dia todos estavam de folga.
Ele come, acredita ue a seduz com seu fala demais, gesticular demais e - o pior para uma mulher - externar visões demais.
Se homem fosse um bicho esperto nunca externaria sua real visão do mundo.
Homem é preconceituoso, arrogante, sem linha e o pior: Acha que a mulher também é assim. Não é.
Um milionária é capaz de ter um romancer com um limpador de ruas. Basta que ela veja nele o seu homem. Basta que veja um homem que possa amar (e apresentar para as amigas como "o homem que eu amo").
A cada nova frase sem nenhum olhar. Ele não olhava para ela. Ela aumentava o nojo que sentia dele e confirmava a sua tese de que homem não presta.
Ela, com muita educação, pede que ele se vá, mas ele queria mais. Ah, muito mais!
A estatégia foi dizer que não sentia-se bem.
Ela vai até a farmácia de casa e pega um de seus remédios manipulados. Todos feitos por ela mesma.
Ele toma e não dá dois minutos para começar a, de fato, passar mal.
Num primeiro momento, ela se assusta, mas não consegue fazer nada (ou será: não quier fazer nada?). Gosta de ver o homem ali, impotente, inerte, pagando por tudo que a fez.
Seu corpo treme, sua mente perambula por estradas sinistras, Ela gosta, tem prazer e um orgasmo nunca antes sentido.
Em poucos minutos ele se vai.
Em poucos minutos ela se dá conta do que houve.
Sem empregados, sem testemunhas, bastava enterrar o corpo no jardim e estava feito. Mas e a família dele? E as pessoas que, seguramente saberiam que ele foi lá?
Ela, sem saber o que fazer e usando de muita força, o coloca em seu carro (o carro dele) e roda a cidade.
O passeio durou quase toda a noite até que ela resolve colocá-lo no banco do motorista e abandonar o carro próximo a um prostíbulo de luxo no lado, da cidade, oposto á sua casa.
Algunas dias a polícia a procurou, mas nada conseguiu.

Por dias a fim aquela mulher pensou no que havia acontecido.
Ela trocara o medicamento, isso estava claro, mas por qual? Qual medicamento seria tão forte a ponto de matar um homem em minutos?
Ela precisava estudar isso.
Ao mesmo tempo que sentia sentimewnto de pena e culpa, sentia prazer, queria mais.

A troca do medicamento foi ocasional.
Um combinado de medicamentos, comida e bebida levou aquele homem a um mal súbito, mas exatamente qual?

Nesse momento isso é o de menos. O que de fato importa é como a cabeça dessa mulher ficou e com o prazer que ela sentiu ao ver um homem fragilizado à sua frente.
Ela o matou. E gostou disso.

Nasce a Negra - a viúva

Agora você já tem a base de todo o enredo.
Daqui para frente é acompanhar as investidas de Negra - a viúva e ver como ela, de uma mulher pacata e sem fala, se transforma em uma das maiores Serial Killers de todos os tempos.

Até breve.

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10 comentários:

Anônimo disse...

Salve mestre!
Eu gostei do conto, do sistema de narrativa. Mas achei que está muito longo e confuso em alguns pontos.
Achei também que faltam alguns dados sobre a rotina do casal, sobre a morte dos filhos e sobre as ideias dela ao casar com ele.
Tudo pode aparecer a qualquer momento, mas ainda sinto fala disso.
Outra coisa que percebi é que há digressões. Uma limpa na revisão final viria bem.
No todo achei a ideia de uma matadora em série motivada por um marido estranho muito boa.
Quero ler mais.
Como diria o gaúcho do programa de culinária: Voooooltaremos!
Abração caboclo pro c.

Iuri

Talitah Tha disse...

Oi moço. Gostei da empreitada. No todo a história não está longa coisa nenhuma (e Iuri, uma hora tá longa e na outra faltam dados?).
Pelos outros que li, achei que faltaram mais daquelas suas frases legais.
Eu entendi que tudo girará em torno do marido, é isso?

Quero ler mais, pode ser?

Lucia Matsuo disse...

Tá, eu li e gostei, mas não entendi se é uma série, uma tag impression ou o que.
Vem outras?
Não achei que ficou longa, mas concordo q mais dados seria legal pra coisa ficar completa na cabeça.
Vai ter período? Como vai ser?
Dá pra responder (ou responde sem dar, tá valendo)? rsrsrs

Anônimo disse...

Sinceramente eu não gostei. Acho o seu lado poético-confuso-e-sem-norte melhor.
Achei longo e prolixo, mas manda o resto para vermos como fica.
Ci

ॐAderlei ॐFerreira disse...

Grande Iuri, salve!
Que prazer tê-lo aqui. Um honra!
Sua palavras são bem vindas, amigo. Obrigado.
Sentei algumas vezes, durante a semana, para avaliar o que o amigo escreveu, busquei melhorar o que entendi como confuso, mas diminuir ficou humanamente difícil para mim.
E explico: Como trata-se de uma série, o meu intuito foi dar o maior número de dados possíveis e, ao mesmo tempo, criar a base para um grupo de eventos, ações e posturas que virão.
Os buracos que ficaram serão preenchidos durante os outros contos (que eu confesso que não sei se serão menores e mais diretos).
*sorriso* Gosta do gaucho da TV Rural? Também o assisto (somos velhos e loucos, não?).
Amigo, é isso: Muito obrigado por estar aqui.
Abração grandão.

ॐAderlei ॐFerreira disse...

Tha? Fala menina! Seja bem vinda, viu?
Pois é, essa coisa de "frase de efeito", "frase bem tirada" é complicado comigo.
Geralmente eu escrevo dentro de uma relativa fluência e não busco criar as tais frases, apenas escrevo embalado pelo prazer do que escrevo. Sou meu primeiro leitor.
Não sei se consigo explicar, mas é como se eu estivesse lendo e não escrevendo.
Mergulho naquela aura, fecho em ciclo e a obra sai. Dificilmente volto para ler, revisar ou buscar as melhores passagens. São os leitores quem apontam esses pontos e eu volto para reler.
Estranho, louco, não sei, mas esse é o meu processo e hoje entendo porque muitos optam pela parceria.
Sim, o marido - de tão calado - será quem mais falará na série. Ela não aceita a ida dele, pira, o culpa e movida por um tribunal interno faz justiça ao seu jeito.
Passei a semana pesquisando algumas coisas (farmacologia, psicologia e medicina legal) e não sei se consigo fazer a história para hoje (sexta-feira). Se não conseguir a postagem será foto e frases.
Vamos falando.

ॐAderlei ॐFerreira disse...

Oi Lu!
Então, o intuito é fazer uma série com período fechado (ainda não sei qual) depois de postar uma base com umas três ou quatro histórias seguidas.
Essa coisa de responder é complicado para mim, viu?
Nunca sei o que - e como - responder, acabo indo pensar e deixo o tempo passar. Desculpem-me todos que postam comentários e ficam sem respostas. Mudarei isso.
Obrigado por estar aqui.

ॐAderlei ॐFerreira disse...

Fala Ciliana.
A proposta inicial está dentro dos padrões e regras literárias para um conto.
A prolixidade é uma marca que alguns gostam e outros não. Isso é bom. Uma moeda ter dois lados a faz estar mais próxima de uma normalidade comum. Com três a faz ser, além de normal também comum. Sou mais comum do que se pode pensar.
Sabe, outro dia sentei ao lado de uma criptonita. Acredita que não me aconteceu nada? Fiquei um tanto frustrado, mas aceitei o fato de não ser super-homem. Aceitei ser visto como comum por uns e até medroso/covarde por outros. É a visão deles, pessoas comuns.
Ao final, o que importa sou eu me curtir e entender que, para manter as próprias crenças e um aceitável balanço entre loucura e lucidez é preciso ser homem (nem muito e muito menos pouco).
Enfim, Ciliana, espera um cadinho que já escrevo e posto "o resto" da história e você poderá ver "como fica". Só não garanto fazê-lo hoje, pois estou com um dia atarefado. Pessoa comum, lembra?
Fique bem.

Anônimo disse...

Vc qr pirar meu cabeção!!!??? Cade "o resto" da estória?
Na minha humilde opinião ela ficou pesada, mas boa.
Agora, tem que escrever mais né, cabeção?

Bjs Gabi

ॐAderlei ॐFerreira disse...

Falaaaaaaaaaaaaa Gabi! Belezinha?
Pois é... Cheguei a escrever uma boa parte na sexta, mas não deu para publicar. Finalizo e publico assim que der, pode ser? Pode, sim *sorriso*

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