Abrindo as portas.

Seja bem-vindo(a) ao meu Labirinto!
Aqui criador e criaturas se fundem e confundem até o mais astuto ser. Olhe querendo ver e não tema o que pode ser visto, afinal luxo e lixo diferem em somente uma letra - nem tão diferentes assim. Uma dica: Se perca para se achar. Se ache e pouco se dará a permissão para perder-se. Permita-se as permissões a bem das possibilidades.
Bom mergulho andarilho(a)!

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Rio de amor há mar

Essa coisa de arrumar gavetas é algo sem igual.
Não somente nos possibilita ver o dentro como nos leva à viagens sem fim.
Domingão (17.06.2012 - 18:13), cheio de coisas para fazer, mas a fim de fazer nada. Fui arrumar gavetas e olha o que achei. Uma obra do tempo que eu experimentava escrever duas em uma. Olha a data disso!!!
É só seguir a leitura padrão e depois voltar somente na parte colorida (verde).
Delícia!!!


Rio de amor há mar

Uma única dor de amor.
A que bate lá dentro.
Ressoa tão forte que até
quem não sabe sente.

Vai e vem entre peito e mente;
rodopia perdid a. E quando vimos
já nos fe z incoerentes. Ond as.

E a dor é amor.
A
mesma
que
não
cala
dentro
da
gente.

É igual rio e cachoeira ,
fala tanto, tanto , tanto...

Corre
e
despenca.

(será que chega ao mar ?)


Aderlei Ferreira
Qua.20.set.2006

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Teste matrimonial

Teste matrimonial
Maria Aparecida Paixão. Mãe carinhosamente zelosa.
Criou cinco filhos com muita luta e mesmo vendo-os bem casados os queria ao seu lado.
Matou a primeira nora, a segunda e assim foi até a última.
No velório dessa não aguentou e abriu seu coração:
- Vocês estão vendo, meus filhos?! Vocês estão vendo?
Todos pararam e a ouviram. De certo acharam que ela faria um discurso acerca da perda da última nora.
Ela continuou: - Eu matei. Uma a uma. As vossas, mulheres.
Todo o velório parou. Ninguém sabia o fazer. E ela continuou:
- Matei! Matei. Matei. Matei! Matei para testá-las e nenhuma sobreviveu!
Ninguém acreditou no que ouvia, mas ela não parava de falar:
- Elas os abandonou, meus filhos.
O caçula, o mais emotivo entrou em desespero. O mais velho, e mais centrado, foi quem perguntou:
- Mas por que isso mamãe?
- Por que?! Por que? Por que? Ela bate no peito e segue: - Porque elas não passaram no teste. Tentaram me matar ao casar com vocês, tentaram me matar ao engravidar de vocês e provar que faziam "coisas" com vocês. E eu sobrevivi, mas elas - umas fracas! - abandoram vocês. Não passaram. No meu teste!

Aderlei Ferreira
2951218

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Meus becos

Meus becos
Me escrevo, para andar, em mim mesmo.
Me apago, o escrito, para andar em mim mesmo.
Para andar em mim mesmo, me escrevo.
Para me apagar, o escrito, ando em mim mesmo.
Não me importa o outro. Que escreva em si mesmo,
que ande em si mesmo. Que se apague, se escreva.
Que fiquem ao largo de minhas escritas.
Que fiquem ao largo de minhas andanças.
Eu escrevo-me em mim mesmo.
Eu apago-me, o escrito, de mim mesmo
Mas não consigo deixar de borrar todo o meu caminho.

Aderlei Ferreira
45121136

quinta-feira, 16 de maio de 2013

terça-feira, 14 de maio de 2013

Noites de Watermalon Man II

Noites de Watermalon Man II
Eu não havia fechado trabalho para aquela quinta-feira friorenta e sem luz. Inicialmente ficaria em casa, mas a vontade de tocar me empurrava para a rua. A confundi com a vontade de ver tocar e quase me arrumei para ver alguns amigos tocando aqui e ali.

Banho e cama! Era o que eu precisava.
Eu estava acabando meu banho quando o jornal local noticiou um evento no centro da cidade. Pensei: - É agora! Vou fazer uma graninha tocando na rua.

O mais interessante é que nunca consegui tocar na rua. Sempre acontecia algo, sempre era, por algum motivo qualquer, impedido de tocar.
Peguei o  Juliano Santos ( Um saxofone contralto - alto - Jupiter com 20 anos de estrada. Totalmente desplacado, som doce, mas de pouco corpo e projeção) e o convidei para aquela empreitada. Ele era "pequeno de som", mas muito marrento e encarava qualquer uma sem titubear.

Expliquei ao Coltrane (um Fiat Marea Weekend HLX 2.4 mpi 20V 4p Automático) que seria uma missão extra, mas que valia encarar. Ele não gostou muito, mas aceitou, afinal amigo é amigo, parceiro é parceiro e fdp é fdp. E pronto.
Coloquei uma roupa com shape de artista e lá fui eu.

Alguns poucos minutos, um transito tumultuado, algumas mentiras nas barreiras do evento e entrei no coração da bagaça.
Escolhi ficar mais ao largo.

Juliano Santos soltou alguns trinados, um aquecimento básico e o bom e velho Tim Maia para chamar público. Não demorou e a roda estava cheia.
Música, dança, algumas gracinhas e estavamos bem na fita.

Umas 20 pessoas na roda. A maioria dá moedinha, mas sempre cai uma nota de cinco, de dois e até de dez. O lance era pagar a gasolina, a cerveja e ficar fora de casa. TV mata, envelhece e faz perder massa encefálica.
Eu estava na minha queridinha Summertime quando, do nada, um cara de terno bege, feito para uma pessoa duas vezes maior que ele, entrou no meio da roda e começou a pregar:

- Irmãos! Ouçam a música que vem do Senhor. Ouçam e banhem-se na glória do Senhor...
Por padrão, quando na rua, não para-se de tocar diante de qualquer imprevisto. Eles acontecem a todo instante e seguir tocando é uma forma de manter a roda ali com você, afinal os trocados só veem no final.

Aquela figura tinha carisma, cara de pau e envolveu o público não o deixando dispersar, pelo contrário, ele conseguia trazer mais gente.
A pregação não era aquela padronizada como estamos acostumados a ver. Ele falava de família, de relação e relacionava tudo isso à bíblia que estava em suas mãos e fazia links com as músicas que eu tocava.

Ele falava percorrendo a roda e ao passar por mim dizia baixinho:
- Toca isso e deixa o resto comigo. O que você quer eu também quero e juntos poderemos triplicar as possibilidades.

Sem saber o que fazer, mas não sendo cego e burro ao ver que a roda só aumentava, segui tocando e até puxei uns blues, uns gospels e música nacional com balada mais religiosa.
Ele mesmo falava algumas músicas e embalava seu discurso.

Quando puxei Oh Happy Day ele pediu que batessem palmas, que dançassem e começou, depois de uns 30 minutos falando, a pedir dinheiro.
Ele apelava envolvendo o brio de cada um e as pessoas, comovidas, davam muito mais que moedinhas. Choveu notas de dez, de cinco e tudo sob o controle dele, porque ele ia perguntando quem podia dar dez para a obra do senhor e depois perguntava sobre cinco, dois e aceitou até cartão transporte. E deram!

Ele agradeceu, fez a turma dispersar e veio dividir comigo.
- Olha irmão, 30% para cada um. Os outros 40% eu levarei para a igreja e doarei ao senhor.

Eu fiquei pensando, via aquele bolo de dinheiro. Nem na noite eu ganharia aquilo em tão pouco tempo, mas achei injusto eu dar 40% para o tal senhor que ele falava e aí tive uma sacada.
- Então, irmão, eu entendo a sua devoção, mas é que eu só toco pela congregação e prefiro levar outros 20% e doar lá na obra, pode ser?

Ele sorriu, entendeu que eu estava esperto e concordou.
Pela primeira vez eu havia me dado bem na rua.

Recolhi tudo e sai tocando a minha preferida na noite:

 

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Noites de Watermelon Man I

Noites de Watermelon Man I
A cidade estava cinza quando apertei o botão para desligar o alarme de Coltrane e abrir suas portas.
Estava mais frio do que pensei e aquele terninho de R$1,99 não seguraria a onda daquela noite. Mesmo estando, ainda, na porta de casa resolvi não voltar para pegar algo mais grosso e condizente.
Queria aquele shape, eu estava bem.
Calça de couro surrada, botas cowboy, camisa com caricatura de Miles e blazer carijó. Estava bem.
Arrumo o sax no banco de trás, jogo a bolsa com palhetas, partituras e cigarros.
Ao sentar e segurar o volante nas mãos paro alguns segundos antes de virar a chave e olho para aquela rua vazia, aquele tempo neblinado. Parecia um filme. Um filme que eu vira quando criança e via se repetir. Um bluesman indo, sozinho, para a noite.
Conferência do interior, chaves no contato, partida acionada. Dois minutos para um breve aquecimento, coloquei o cambio no D, acionei acelerador e Coltrane seguiu em macha.
Alguns poucos quilometros e estávamos no destino.
Estacionei Coltrane, liguei o alarme e me despedi. A noite seria longa.
Entrei naquele lugar minúsculo que era reconhecido como uma das melhores casas de jazz da cidade.
Arrumei Martim. Um saxofone Frank Holton de 1942. Som encorpado, mas acadêmico. Era preciso uma boquilha de metal, Mayer 6, para que seu som ficasse mais próximo ao que os ouvidos mais modernos estavam acostumados.
Com Martim em seu canto, devidamente protegido de bebados e descuidados fui para o bar.
Uisque, olhares e espera.
Eu tocaria com playback. É ruim, mas não estar com banda tem algumas vantagens e não somente desvantagens.
Seriam quatro sets de 40 minutos com pausa de 20. O repertório seria composto por Miles, Cannonball (Julian "Cannonball" Adderley), Coltrane e tantos outros. Sempre com uma puxada mais ballads que jazz.
Aquela noite fria pedia bebida, conversa e sexo.
Aquela noite fria pedia aconhcego, algo quente e diálogos filosóficos.

Acabei minha bebida, olhei a casa relativamente cheia. Casais eram maioria, mas muitos solteiros estavam ali. Talvez por ser início de semana e poucos lugares abrirem.
Fui lá fora, fumei meu último cigarro, recusei, como sempre, o bequi que estava rodando e entrei.
Fiz sinal para o caixa tirar o som ambiente, tirei a tela de proteção do meu note, liguei o tablet, o microfone, dei start em tudo e enquanto o playback fazia a introdução eu cumprimentei à todos, fiz algumas escalas como aquecimento e entrei no tempo certo.
Misty (com puxada Dexter Gordon) era uma boa música para começar.

Eu tocava sem ser tocado. Cumpria meu papel de operário da noite. Degralizava as possibilidades de cantadas entre os casais, fornecia argumento para conversas, tapetes para as viagens dos solteiros e embalo para um e outro beber.
Em outros dias eu estaria, na frente de todos, fazendo amor com Martim sem qualquer pudor, estaria pensando nos 2.4 do motor de Coltrane. Mas naquele dia eu estava tão cinza e frio quanto a noite. Meus dedos iam automaticamente nas teclas de Martim. Ele respondia, também, sem amor. Acabou a paixão? Podia ser.

Dois sets e nenhuma novidade. Lá fora, um cigarro, a recusa do bequi, um ou outro querendo saber de Martim e Coltrane a minha espera. Não deixava de olhar para ele e estacionar bem a minha frente facilitava essa paquera.
Eu abria sua porta, seu banco de couro me acolhia. Uma ou outra vez ligava seu rádio e por ali, também, conversávamos.

No terceiro set uma moça veio me perguntar sobre jazz, Nova iorque e música. O papo não engrenou. Seu perfume de cerveja, seu olhar fixo demais e total falta de química me fez voltar para o último set da noite com ela na prima fila.
Pausa e mais conversa. Eu não estava ali, será que ela não percebia?

Abri o quarto set com uma versão de Watermelon Man tirada do repertório de Big Mama Thornton. Mesma puxada, mesmo ritmo, mesmo blues.
Tocar aquela música mexeu comigo, parece que Martim se animou, aqueceu e fui com ele. A casa já estava quase vazia, os poucos que faziam a noite balançavam ao som daquele vendendor de melancias.
Eu me empolguei e comecei a falar algumas coisas nos intervalos da música. Fiz minha música. Bebado? Talvez.
Misturava português com um nada de inglês e menos ainda de francês. Vendia minha melancia naquele final de noite.

Ao final do quarto set, arrumei Martim. O agasalhei na bag rigida vinda de Paris, dei boa noite e o deitei.
Entrei em Coltrane, virei a chave, tomei mais um gole de uisque e segui.
As ruas estavam vazias de gente, de alma, de mundo.
Eu estava vazio, mas nem toda noite tem histórias poeticas e mirabolantes. Nem toda noite tem samba. Na realidade a maioria das noites são cinzas, frias e cheias de blues.

Estacionei Coltrane, entrei. Me estacionei. Dormir aumentariam as possibilidades para que a próxima noite fosse melhor.
Vamos ver.

Ass. Um Watermelon Man

(postagem dedicada ao amigo Yuri - Obrigado pelos incentivos, bons conselhos, papos sempre agradáveis e presença ímpar - Somos Watermelon Man. Yeah brother san!!!)

*cantando* Quando eu estou aqui vivendo esse momento lindo...

*cantando* Quando eu estou aqui vivendo esse momento lindo...

Salve povo!
Na vitrola roda uma bolacha de ninguém menos que Big Mama Thornton em sua viagem "Little Red Rooster".
Hoje acordei disposto, especialmente sensível e grato por tudo que essa vida me dá, traz e leva. Amém!
Ao ligar o macrocomputador (em era de netbook, tablet, smartphone e tantos outros, um PC deixa de ser micro para ser macro) tive uma surpresa agradável.
Um e-mail. Uau! Um e-mail!
Seu corpo era impecável, a escrita muito bem estruturada. Nada fora do lugar.
Era meu amigo querido, adorado, salve, salve, Yuri.
Ele me perguntava como eu estava, se escrevia e reclamava de não ter nada, de novo, no blog.
Respondi que a escrita está à todo vapor, mas na gaveta pela intenção de projetos mais ambiciosos ou mesmo para evitar julgos, desagradáveis, do passado.
Saímos do e-mail, fomos ao MSN (sim, ainda não encerrou), depois ao telefone e marcamos almoço para hoje.

Contei as novidades, os projetos, mostrei algumas coisas e rimos um monte de um novo personagem.
A loucura foi tamanha que chegamos a montar uma nova igreja e tome de rir da gente, do mundo e do mundo da gente.
Yuri é assim, um espirituoso amigo. Sempre sorrindo, sempre correndo, sempre presente. Gostei.
O que acontece é que me ocorreu que eu devo, sim, satisfação a quem me lê e vim aqui dizer que estou vivíssimo da Silva.
Vivo. Feliz. E quem me conhece há de reconhecer o que vem agora: Enfim, estou tranquilo. Tranquilinho de tudo.
*sorriso*
Tenho produzido como antes, muito, muitas ideias, mas pouco publicado para concluir, para focar, para não dispersar.
Tenho andado em festas estranhas, com gente esquisitas, mas estou legal e aguento mais birita!

Aqui só publicarei depois de fechar algumas ideias e já trazê-las prontas (se trouxer).
Valeu gente e vamos voltar à Big Mama com o seu Summertime, oh happy day e tantas outras boas pedidas para esse dia lindo de outuno.

Amém!

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails