06. A Casa de Madalena - A mesa de canto
Eu estava ali. Sentada. Imóvel.
Muitas tardes eram assim. Eu ficava num canto da sala vendo meu pai escrever,
socando a máquina e minha mãe... a costurar, passando a agulha.
Às vezes falava sozinha, às vezes
brincava sozinha, às vezes sonhava sozinha.
Minha mãe e seus belos pés de
bailarina comandavam, em vai e vem, a polia da máquina. Longos, pequenos,
sempre bem cuidados. Aliás, mamãe sempre fora muito bem cuidada. Era o tipo
mignon, pele lisa e, sem muito esforço, com cara de menina.
Papai soube escolher bem sua
esposa.
Papai batia... à máquina.
Mamãe enfiava agulhas...
E se papai enfiasse agulhas? Na
mamãe?
Do jeito que ela o venerava não
duvido que não somente deixaria como pediria mais.
Uma agulha nos bicos dos seios.
Ela, amarrada em seu tecidos e, ele, torturando-a cada vez mais.
Fale que a vida não presta, ele
mandaria. Ela viraria os olhos, mas nada diria.
Mais agulhas, mais pressão. Mais
pano.
Era estranho como, em pleno
século 21, mamãe ainda tratava papai por senhor. Algo que nem mesmo eu fazia.
Estranha a relação dos dois. Ele
mandava e ela sempre atendia. Sim, senhor querido. Era o que ela mais dizia.
Muitas coisas que a empregada
explorada podia fazer, quem fazia era minha mãe. A ideia que eu tinha era que a
empregada cuidava exclusivamente da casa e de mim, pois do meu pai, era minha
mãe que cuidava.
Algo estranho, obsessivo e
aparentemente doentio. Eu não ligava e se eles achavam aquilo certo, não seria
eu ax a dizer que estavam errados.
Meu pai controlava todas as três
mulheres da casa de uma forma incomum. Queria saber de tudo e sempre ficava
claro que tinha prazer em mandar.
Gostava de ver as três na sala
quando ele chegava da rua e minha mãe sempre arrumava uma desculpa para
manter-nos ali em sua chegada.
Uma vez, minha mãe deixou cair um
quilo de arroz no chão da cozinha e, ao ouvir alguma coisa balbuciada por meu
pai, foi para o quarto e ficou lá por dois dias seguidos. Ele fez de tudo para
eu não perceber, mas havia dormido na sala. Um quilo de arroz e dois dias num
quarto...
Funcional ou não, a relação ia
tranquilamente e vez e outra ele enfiava uma agulha nos seios da minha mãe. Ela
devia adorar. Andava nua pela casa e o recebia de joelhos à porta. Comeria numa
pequena mesa de canto que não era jogada fora justamente por, na alta
madrugada, servir de apoio para a tigela de cão em que minha mãe fazia suas
refeições.
Ele sempre a amarrava com tecidos
diversos e sempre a fazia jurar submissão eterna a ele.
A prenderia no canto da sala.
Totalmente aberta. Disposta, exposta e a usaria por noites e mais noites sem
piedade. Suas partes íntimas estariam inchadas de tanto uso. Sugadores de seios
de gestantes virariam sugadores de clitóris, prendedores de roupas seriam
ótimos aliados às agulhas para prenderem os bicos de mamãe.
Ela chorando, mas com olhar de
quero mais. Ele mostrando o brilho em seus olhos de tanto desejo e excitação.
Já disse, papai era louco, mamãe
fingia-se de morta, a empregada não gostava de mim e era totalmente
subserviente a papai. E eu? Eu ficava largada num canto com disponibilidade
para morrer aos poucos. Vendo aquilo tudo.
MadalenaDee
Mada por parte de pai, Lena pela
da mãe e
Dee por pura rebeldia.
Para os íntimos, Ma dá. Para os
inimigos, Me dá. Para os neutros, Madalena
Dee.
By
Aderlei Ferreira
11/FEV/2006