Abrindo as portas.

Seja bem-vindo(a) ao meu Labirinto!
Aqui criador e criaturas se fundem e confundem até o mais astuto ser. Olhe querendo ver e não tema o que pode ser visto, afinal luxo e lixo diferem em somente uma letra - nem tão diferentes assim. Uma dica: Se perca para se achar. Se ache e pouco se dará a permissão para perder-se. Permita-se as permissões a bem das possibilidades.
Bom mergulho andarilho(a)!

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

04. A Casa de Madalena - O quintal

04. A Casa de Madalena - O quintal
Aquele dia estava estranho. Não fazia sol, mas fazia calor. Não chovia, mas o céu estava nublado. Eu? Pingava por todas os poros, molhava todas as partes. Não tinha vento que me fizesse refrescar. Era só agonia. Agonia de menina, inquietação de mulher. Achava que ia acontecer alguma coisa. Achava que alguma coisa aconteceria. Fui até a janela olhei para a rua e nada. Nada acontecia. Nenhum anúncio de duelo. Nenhuma justa por donzelas ou penas de ouro. Nenhum grito apavorante e logo a seguir os sinos avisando a aproximação de dragões. Não imperiais. Os voadores que cospem fogo em resposta a suas iras.
Meu pai batia a máquina, minha mãe enfiava agulhas... Papai não levava jeito para enfiar agulhas. Era serviço de mulher. Mamãe, não conseguia entender-se com a máquina. Coisa de homem mesmo...
Mesmo sendo grande a morada, só tínhamos uma explorada em casa. Minha mãe era desumana e a chamava de empregada, meu pai era caridoso. Usava mais. Tudo. Pagava-se menos. Bem menos, mas chamava-a de operacional. Eu não chamava e se chamasse ela nunca vinha.
A explorada, tinha 57 anos, mas havia tempo que travou sua contagem nos 49 e segundo ela, agora no auge de sua juventude. Uma louca. Louca empregada operacional explorada. Andava feito uma barata tonta pela casa. Devia estar na menopausa. Suava. Se abanava. Olhos sempre arregalados. Dentes sempre prontos para serem mostrados. Ria de tudo aquela uma. Tenho medo de gente que ri a toa. Tenho medo de orientais.
Samurais se matam. Matam. Papai devia escrever sobre os samurais... Um romance onde o samurai era expulso de seu país por não querer se matar. Ele viria, de navio, para o Brasil e se apaixonaria por uma mulata. Gueixa-peixa seria o nome dela.
Já posso até ver. O samurai faria uso de cordas. Shibari. Bondage; e tudo mais para imobilizar a mulata que só pensava em sambar. Ele diria, fica quieta, né? Serenidade, né? Saramba agitado, samurai sereno, né?
Meu pai não saberia escrever sobre isso. Minha mãe não conseguiria costurar com ele espancando a máquina para fazer as falas do samurai na hora do samba. Meu pai não sabia sambar, mas sempre disfarçava para olhar as mulatas na rua.
Cinira. Dona. Era esse o nome da explorada. Um salário de nada. Roupas sempre doadas. Restos, mas feliz. Sorrindo sempre; mas sempre me evitada. Dizia que eu era estranha e eu não deixava por menos. Me fazia de estranha. Olhares, caras, bocas e até tremedeiras ao cruzar por ela...
Levantei. Precisava sair da sala. Não aguentava mais aquele abafo. Fui até a cozinha. Bebi água. Olhei o linguarudo cão no quintal.
Para os amigos, papai dizia que achou o cão perdido na rua e ficou com dó. Para Bhoeme, ele pegou o cão para fazer segurança da casa e dificultar sua entrada. Desde de bem cedo Bhoeme fez amizade com nosso enorme cão. Dois cachorros rosnam, se cheiram, se empurram, rosnam, mas... sempre se entendem. Se a cadela estiver no cio, vai um de cada vez. Pode ficar o tempo que quiser grudado, mas assim que soltar o seguinte, da fila, assume sua vez. Limpa a cadela com a língua, sobre, estoca firme, rápido e logo se gruda de novo. Cães dão bastante atenção ao antes e depois. Não gozam e saem andando...
Sai até o quintal e fui dar água ao bicho. Ele me agradeceu com lambidas em meu rosto, pés e perna.
Olhei para trás, a explorada estava vendo-me. Se escondia na cortina do quarto da minha mãe. Fingi que não a vi e comecei a simular gemidos, excitação e prazer. Abri as pernas e deixei o cão lamber-me mais próximo as partes íntimas. Ela fazia cara de espanto. Abria bem a boca e fechava-a com as duas mãos.
O cão, não direi seu nome, não quero, não vou, lambia. Bebia água fresca e vinha me refrescar. De saia, eu abria mais as pernas e deixava-o lamber. Levantava bem a cabeça e mostrava, a explorada minha excitação.
Cansei de brincar. Enjoei de apavorar a louca e estranha da explorada empregada operacional. Sai. Fui ao encontro dela, entrei pela cozinha, atravessei aquela encruzilhada querendo ver o demônio e logo depois ela, passei por alguns cômodos e bares vazios de gente de verdade e cheios de boêmios falidos, queria de qualquer jeito cruzar com ela. Havia bebido em sua intenção. Depois daquela cena, certamente ela estaria fora de si. Peguei seu homem para mostra-la o quão fraca é perto de mim. Ela teria que aparecer! Ruas, bares, janelas e cômodos. nada da louca. Ate que...já estava chegando em meu quarto quando fui puxada pelo braço num beco despercebido. Pensei que fosse Bhoeme com mais uma de suas investidas surpresas, mas era a empregada. A operacional explorada. A risonha que para mim nunca ria. Veio reclamar seus direitos. Arrotei bem em sua cara e joguei meus sedosos cabelos em seu rosto, mas ela não cedeu. Me olhou fixamente, apertou mais ainda meu braço e falou com ódio na voz e espancando ferozmente meu rosto, fez seu discurso de posse, ele é meu. Ouviu? Meu! Me jogou de volta ao corredor-berço. Sai do bar com meu salto quebrado, mas ainda com meu ar superior. Eu estava descabelada, marcada em corpo e alma. Bhoeme nada fez. Não estava lá. Se estivesse certamente bateria em nos duas. Oras, uma vagabunda de porto vir brigar comigo por causa de um cão?! Só quando entrei no quarto ela apareceu. Abriu as cortinas, me olhou e disse baixinho evitando o cruzamento de nossos olhos, se seu pai sabe desse tipo de coisa te mata, menina...
Menina? Pensei. Sou mulher de Bhoeme, um cão muito melhor que o seu.

MadalenaDee
Mada por parte de pai, Lena pela da mãe e Dee por pura rebeldia.
Para os íntimos, Ma dá. Para os inimigos, Me dá. Para os neutros MadalenaDee.

By
Aderlei Ferreira
09/FEV/2006

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