12. A Casa de Madalena - A
Sala de TV
Cansei.
E meus dias sempre eram assim. Entre uma coisa. E outra. Eu cansava-me muito
facilmente. A louca da Marília, uma amiga, obcecada por adivinhar tudo, diria
que eu, mesmo sem transar, estaria grávida.
Sentei
de frente para a tv e antes que alguém chegasse coloquei nos meu desenhos
preferidos. Os japoneses são bons nessa arte. Aliás, eles são bons em muitas
coisas. Eu queria ser japonesa. Quem sabe não seria escolhida por algum
samurai?Aquela maneira ríspida de falar não perderia em nada para a do meu pai e a minha subserviência seria tão igual ou maior que a da minha mãe.
Eu cuidaria da casa, proveria filhos e seria de uma paciência oriental.
Estou pronta. Até o rosto fechado e morto das orientais eu já tenho. Aquele ar de sempre pronta para a morte e morrendo a cada dia sem reclamar.
Meu senhor marido samurai me brigaria, exigiria subserviência ou qual Império dos Sentidos. Que ninguém sabe que eu vi, mas vi. E revi. Eu seria a gueixa dele e viveríamos para amar até a morte.
Perdidos. Um no outro. Só seríamos um.
Eu não precisaria trabalhar, estudar ou cuidar da casa. Só precisaria estar à disposição dele. Meu homem. E para pagar meus préstimos ele estaria a minha disposição.
Fico me imaginando com os olhos puxados, aquelas roupas justas. Muitos panos para esconder a barriga e as celulites. Muita maquiagem para esconder a idade. Fala sempre baixa e subserviente.
Essa, definitivamente, é a vida que quero para mim.
Mulher de samurai, mulher de Império dos Sentidos ou gueixa. Uma oriental perfeita e feita para amar.
Não precisarei tecer comentários de nada, não participarei da sociedade e serei sempre anulada se tenatar mostrar mais que sorriso e contentamento.
Meu homem mandará e eu obedecerei sem questionar.
Bonita essa vida. Mas cansei. Desliguei a tv e fui descansar.
MadalenaDee
Mada
por parte de pai, Lena pela da mãe e Dee por pura rebeldia.Para os intimos, Ma da. Para os inimigos, Me dá. Para os neutros MadalenaDee.
By
Aderlei Ferreira
03/Mar/2006
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