Abrindo as portas.

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Aqui criador e criaturas se fundem e confundem até o mais astuto ser. Olhe querendo ver e não tema o que pode ser visto, afinal luxo e lixo diferem em somente uma letra - nem tão diferentes assim. Uma dica: Se perca para se achar. Se ache e pouco se dará a permissão para perder-se. Permita-se as permissões a bem das possibilidades.
Bom mergulho andarilho(a)!

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

08. A Casa da Madalena - O relógio da cozinha

08. A Casa de Madalena - O relógio da cozinha
Parei na cozinha. Olhava um antigo relógio que fazia estridente barulho ao marcar as horas. A cada salto de ponteiros toda a parede tremia.
Não entendo... Perdemos tanto tempo gerenciando as horas. Usamos tantas horas para marcar horas e somos totalmente dependente do tempo.
Fico imaginando como eram as relações numa época em que não havia hora específica. O que o marido devia dizer a mulher para ela se arrumar rápido? - Vai logo! Nessa época não temos relógio, por isso você não tem tempo! E os atrassadinhos? - Não me olhe com essa cara! Eu sei perfeitamente que estamos sem tempo!
Interessante seria a mulher desesperada e pronta para ter um filho dialogando com o, mais desesperado ainda, marido:
- Amor, a hora chegou.
- Que hora?! Que hora!!! Mas que horas o que?! Não percebes que não temos horas!
O cunhado chato, que se comportava como sendo o pai da criança, ainda diria: - E o médico? Está sem hora também?
A água desce em boa temperatura e sigo parada ali, na cozinha, pensando no tempo e nas horas.
Encostada na pia ouço o cão latir, meu pai latir, a empregada latir e minha mãe rosnar (covarde demais para latir)... O tempo passa. Eu passo o tempo. O tempo me passa e bebo mais um gole. Mais uma vez vejo o imenso relógio da cozinha olhando para mim e implicando com os meus ouvidos.
A verdade é que eu queria ter todo o tempo do mundo. O venderia em bancas de 1,99 e rápido os veria esgotar.
Quer tempo para os filhos? Um saquinho de 30 minutos dá, senhor!
Quer tempo para a esposa? 2 minutos e toma!
Tempo para ouvir as reclamações do lar? Esse sempre estaria em falta... Fazem pouco sabem? Compram pouco.
Uma moça já passada poderia comprar sacos especiais com tempo extra para poder caçar marido. Esse saco seria mais caro. Haja tempo para se produzir, investir e estar disponível para esse artigo raro aparecer...
Eu criaria uma nova modalidade de tempo: Tempo Out. Esse viria num saco escuro e poderia ser usado para tudo que é out. Estudo, falsas promessas de amor, compromissos trabalhistas, mulher chata, mas que acha que é a melhor do mundo...
Um outro tipo que venderia muito seria o tempo para namorar... Esse seria um saco grande.
Quem gostasse de filmes, poderia comprar tempos cinematográficos e quem não gosta de banho poderia remanejar o tempo restante para outras coisas como, por exemplo, perfumes caros.
No Brasil, o campeão de vendas seria "tempo para fornicar (com outro que não o marido ou esposa)".
Mulheres teriam mais tempo para traírem seus maridos. Esse tempo seria entregue em discretas embalagens.
Maridos infiéis poderiam comprar mais tempo para irem a motéis com suas amantes.
Gosta de festa? Que tal comprar tempo de uma noite para muita balada e música?
Que tal um tempinho a mais para o sexo? Esse saco seria especial e o cliente poderia dividir o tempo em sacos menores. 10 minutos paras as preliminares, 40 para o coito e 5 para o pós coito.
Eu aceitaria representante de todo o Brasil e ainda criaria tempo personalizado segundo suas necessidades. O tempo baiano sempre viria com mais alguns minutos para processamento. O tempo para São Paulo seria preciso e para o Rio de Janeiro seria um tempo bem mais flexível...
Ainda criaria uma sistema único contra fraldes e pirataria. Já pensou eu sendo difamada por vender dez minutos e entregar só 8? Seria tudo dentro da lei. Lei alias que eu mudaria bastante com o gerenciar de tempos.
Outra coisa que seria um sucesso são as promoções: Que tal comprar 30 minutos para ginástica e ganhar mais 10 para a massagem?
Seguramente minha mãe não quereria tempo algum. Não precisa e os que comprasse passaria para a cota do meu pai. Ele sempre está sem tempo.
A empregada explorada teria mais tempo para cuidar da vida alheia e fofocar sem parar. Como gosta.
Não sei, mas daria mais tempo a Bhoeme, meu amante insaciável. Ele teria todo o tempo do mundo para me usar como mulher e me fazer sua. Teríamos tempo para explorar os mares do caribe e ele me mostrar as muitas alcovas de suas aventuras mais secretas.
Eu reservara um tempo extra para passarmos o carnaval em Veneza, mostrar a bunda em Roma, correr pelas praças de Paris e gritar Olé! quando o touro pegasse o toureiro de jeito.
Bhoeme seria uno comigo. Meu tempo seria todo dele e o dele. Bem, o dele continuaria sendo dele...
O relógio badala firme. Virou a hora. A parede estremece mais uma vez e acabo minha água.
- Mada! Grita meu pai.
- Lena! fala minha mãe.
- Acabou seu tempo menina. Diz a empregada explorada.
Deixo o copo de lado, confiro a hora e vou cuidar para um dia meu tempo ser só meu.
Já sem tempo. Fui.

MadalenaDee
Mada por parte de pai, Lena pela da mãe e Dee por pura rebeldia.
Para os íntimos, Ma dá. Para os inimigos, Me dá. Para os neutros MadalenaDee.

By
Aderlei Ferreira
14/FEV/2006

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