Abrindo as portas.

Seja bem-vindo(a) ao meu Labirinto!
Aqui criador e criaturas se fundem e confundem até o mais astuto ser. Olhe querendo ver e não tema o que pode ser visto, afinal luxo e lixo diferem em somente uma letra - nem tão diferentes assim. Uma dica: Se perca para se achar. Se ache e pouco se dará a permissão para perder-se. Permita-se as permissões a bem das possibilidades.
Bom mergulho andarilho(a)!

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

10. A Casa de Madalena - O quarto da empregada

10. A Casa de Madalena - O quarto da empregada
Sábado à tarde. Meus pais foram fazer visitas a amigos. A empregada operacional explorada acabara de sair. Eu estava só.
Não consegui acreditar que eu ainda sabia ouvir o silêncio. Casa vazia de sons torturantes de batidas em máquinas de escrever. Ventos iam e vinham sem precisar passar pela sala e ver tecidos sendo agulhados impiedosamente por minha mãe. Sem o barulho do infernizante motor da máquina de costura.
Ainda da sala gritei para o cão entrar. Ele sabia que se não houvesse ninguém em casa. Ele podia entrar. Eu era ninguém e logo ele estava atrás de mim. Balançava o rabo.
Deus tirou o rabo dos homens. Se deixasse seria uma ventania só. Por tudo balançaria. Por nada os colocaria entre as pernas.
Eu estava só com meus pensamentos. Tirei toda a roupa. Queria fazer o proibido. Andar nua pela casa sem me preocupar com os falsos conceitos de minha mãe e os arregalados olhos de meu pai.
Coloquei a roupa. Talvez realmente não seja uma boa coisa uma moça da minha idade andar nua pela casa. Eu não era moça da vida para andar assim, diria minha mãe. Você é moça de família tradicional, diria meu pai. Eu sou louca de estar com vocês. Quem diria isso?
Fui para o meu quarto e tirei a roupa. Eu era livre. E senhora daquele palácio. O súdito que ousasse me olhar. Morreria! Antes mesmo de saber porque morreu. Seria rainha de muitos escravos. Noventa por cento eunucos. Dez por cento altamente viris. Aquele que me fizesse morrer em gozos teria sua liberdade assinada com uma pena de ouro. Mas logo depois de ser livre seria morto. Que homem que sabe fazer uma mulher gozar merece ser livre e viver?
Me enrolei em um grande lençol. Fui passear pela casa. Queria ver meus domínios.  Meus súditos me seguiam. Me olhavam. O cão? Não. O cão era um imenso cavalo alado que abençoava minha vida nesse mundo de plebeus. Uns acenavam. Eu aprendi com minha mãe. A Rainha má. E respondia com acenos cansados e sorrisos amarelos. Outros gritavam meu nome. Outros mais efusivos gritavam: - Deus salve a Rainha! Ainda preferia meu nome a frente do de Deus.
Magdalena - a rainha bela! Me desculpem, mas prefiro ser a bela e desejada por todos os homens que a intelectual gorda a quem só querem a fortuna.
Rodei todos os cantos do domínio e faltava apenas um. A senzala. Como toda soberana que nasceu para governar, meu sexto sentido dizia que se eu fosse lá acharia algo.
Ordenei aos cavaleiros que seguissem para aquela parte afastada do feudo.
O cão achou que eu o prenderia lá e se recusou a ir, mas eu era conhecida por ser destemida e parti com tropas e cavalos para o limbo.
Arggggg que cheiro horrível. Era enxofre para todos os lados e possivelmente o dragão residente daquela caverna estava adormecido em algum lugar.
Não tenho dúvidas que a empregada diria que aquilo era incenso. A renite da minha mãe diria que aquilo era a morte e o tolo do meu pai... não diria nada. Ajustaria o óculos na face e nos chamaria para irmos embora.
Roupas largadas. Uniformes sem passar. Uma bagunça maior que a do meu quarto.
Peguei um dos uniformes e sem saber o que fazia o coloquei. Queria ver se continuaria bela naquela vestimenta pobre.
Nem bem acabei de vestir-me e logo fui agarrada por um de meus lanceiros. Não deu tempo de gritar. O tempo estava somente para dar. Ele foi brutal. Insano e com força me submeteu. Sou qual a uma escrava. Animalescamente me puxava os cabelos e rosnava em meus ouvidos coisas que não ouso contar.
Eu transpirava aquele odor. Suava qual uma mucama a beira do fogão de lenha tendo que cozinhar para alimentar a prole e rebolar para alimentar o marido.
Falei que eu era rainha e ele confirmou que, se eu quisesse, poderia ser do lar dele também.
As estocados doíam e eu nada podia fazer... A respiração era forte e os outros gritavam para ele ir logo, pois de outros chegava a vez.
Queria morrer. Ali. Teria morrido ali. Mas não era possível! O imenso relógio da cozinha bradou e eu sabia que meus pais chegariam a qualquer minuto.
Ouvi meu cavalo alado latir avisando da chegada de meus pais. Empurrei o soldado, prendi o cão. Tirei a roupa de empregada. Ouvi o risos dos soldados e senti o forte cheiro de suas baratas bebidas e sem conseguir pegar o lençol, corri nua pela casa até chegar em meu quarto.
Me atirei na cama. Bati com o joelho na borda e gritei. Minha mãe entrou perguntando o que houve. Chorando expliquei que tive um sonho estranho. Meu pai me olhou nua. Minha mãe me cobriu e saiu. Antes de dormir naquela posição ainda ouvi os soldados rindo e chamando por mim: - Magdalena a rainha bela que saia como escrava para encontrar verdadeiros amantes...

MadalenaDee
Mada por parte de pai, Lena pela da mãe e Dee por pura rebeldia.
Para os íntimos, Ma dá. Para os inimigos, Me dá. Para os neutros MadalenaDee.

By
Aderlei Ferreira
21/FEV/2006

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