A vida estava péssima, o mundo havia travado em algum lugar. Sem órbita, sem fluxo e até sem refluxo. Sabe aquelas horas que até o ruim seria bom? Pois é.
Sem mais nem menos o telefone toca:
- Fala nego, tô nu Brasil. pausa Trouxe bebidinha, tem comida aí?
Gargalhei alto ao identificar a doida.
- Pra você?! Sempre tem. Me dá meia hora e vou ao mercado.
- Esse é o meu nego. Saudade dessa sua mão cheia para cozinhar. Tô saindo!
- Pera, pô! Tenho que comprar os bagulho, meu.
- Se vira nego. Tô saindo quea saudade é maior que a paciência.
Uma filósofa e poeta.
Corri ao mercado, peguei o que dava.
Corri para casa e quando cheguei o táxi estava parado na minha porta.
- Aí, paguei pra zerar o velocímetro, mas mantive o caboclo comigo. Ficar sozinha?! Nem fu...! kkkkkk
- Dá cá abraço!
Nos olhamos, abraçamos e ela entrou.
A conversa foi regada com cheiro forte de alho, ácido de cebola e língua bovina. Ela adora esse prato e eu não sabia fazê-lo quando ela saiu do Brasil para fazer seu doutorado em Harvard.
A bebida era vinho norte americano. Fina flor.
A língua estava pronta, acendi as lamparinas que eu mesmo fiz, acendi a lareira e ela me fez pensar quando eu, aparentemente, coloquei as madeiras sem espaço para a circulação do fogo:
- Oh, nego... Deixa espaço para o fogo dançar. Cara, o fogo tem que dançar. Deixa espaço, o fogo tem ter espaço para dançar.
Impressionante como algumas coisas nos fazem pensar.
Um relacionamento é madeira, precisa de espaço para o fogo dançar.
Isso é uma coisa que me fez pensar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário