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terça-feira, 12 de junho de 2012

Minhas namoradas, meus amores

Minhas namoradas, meus amores
Meu primeiro beijo sem culpa aconteceu com aquela mulher de braços musculosos, lábios bem guarnecidos, olhar arrogante, fixos no horizonte e toques virtuosos.
Eunice. Nossa. Negra, esquia, elegante, com um poder de presença que fazia tremer tanto lua quanto estrelas. A noite, definitivamente era dela. Ambas trocavam respeito.
Na intimidade, Eunice, era de pouco sorriso. Tinha dentes lindos, grandes e muito bem alinhados, mas sorria pouco. Talvez por ser totalmente focada no que fazia.
Nosso relacionamento era rico em altos e baixos. Uma gangorra de ciclos, reciclos e círculos sem fim. Porém muitas vezes ouvi, li e vi Eunice me dizer que queria que eu morresse. Só assim se livraria de mim. Quando eu achava que a frase havia acabado ela continuava falando e soltava uma gargalhada: "Eu queria que você morresse, só assim eu me livraria de você "pausa". Assim eu poderia me preprarar melhor para te ter na próxima vida "gargalhada".
Nem sempre dançava, mas era - definitivamente - apaixonada por nossas raizes africanas e bastava um afro-jazz para essa mulher levantar, abrir seus fortes (e bem definidos) braços, sorrir e dançar. Dançar e sorrir.
Infelizmente Eunice se perdeu em si mesma e como a maioria dos artistas ligou-se mais ao "mundo dos outros"  que ao nosso mundo. Ela pirava por dias, viajava sem fim. Via coisas, gentes e lugares.
Nessa época o pedido dela foi aceito. Eu morri em seu coração. Parti, mas não sem antes ainda ouví-la cantar: Love or leave me, uma música dos anos 20, muito popular nos EUA, sendo que na época era um sucesso na voz de Sammy Davis Jr., sobretudo pelos precisos scats que ele fazia na música, deixando-a com um swing muito dançante. Ela a cantou chorando, triste e num ritmo de jazz ballads que nunca consegui esquecer.

Depois de Eunice eu tive alguns outros "casos consola trouxa", aqueles que entramos achando que é a saída para o nosso sofrimento quando, na verdade, é a entrada em um sem fim de aborrecimentos. Você não viveu o luto que era preciso para seguir, mas - por outro lado - está cansado de tanta dor, que no seu entendimento já é sem sentido.
Você culpa o outro pelo fim, depois culpa a si mesmo e nesse interim se perde completamente do objeto em questão: seguir em frente afim de preservar a sua sanidade tanto emocional quanto mental.

Foi no meio dessa filosofia toda que eu conheci a Jane.
Meu Deus!!! Que sorriso lindo! Que olhar que ficava, graciosamente, pequeno quando ela sorria.
Sua timidez era muito mais observada na intimidade que em público. Os amigos a amavam, eu a idolatrava, afinal ela passou sobre mim como um trator passa sobre areia molhada. Amassa com precisão e sem pena.
A conheci cantando no pátio de uma escola. Lembro como se fosse hoje. Era inverno, eu vestia uma gola alta (acho que o nome é gola rolê) branca - o branco sempre me favoreceu ao contrastar com a minha pele - calça social boca de sino, cabelo black power e um imenso cordão de prata com crucifixo. Estiloso, hein? Pois não.

Jane me conquistou desde o primeiro olhar. Eu brincava dizendo que ela tinha um olhar summertime e, claro, ela se derretia a sorrir. Doce.
Aliás, doces eram suas palavras, sua forma de falar e olhar.
O interessante é que o namoro não durou muito. Foi importante, foi profundo, mas devo confessar que nunca amei profundamente Jane.
Pera lá! O fato de não amá-la não a desabilita nessa lista de minhas namoradas, meus amores. Por favor!
O relacionamento foi de profunda transformação em mim. Aprendi muito com ela.
O que mais me chama a atenção é que Jane é uma das poucas namoradas que tive que ficara fora do meu padrão comum.
O relacionamento acabou de uma forma estranha. Eu mudei de bairro, de escola e de amigos.
A vida era outra, o verão chegou e sem despedidas acabamos.
Isso é uma coisa que me pergunto: As namoradas que eu não acabei, ainda são minhas namoradas?

Nessa mudança de bairro eu conheci Glória. Pra cima, rapaz, temos que sobreviver!!! *sorriso* Era sua melhor frase.
Glória era uma negra linda, nariguda, sorriso largo. Nunca consegui acreditar que eu namorei uma mulher como ela. Totalmente à frente de seu tempo. Dançamos muito as baladas dos anos 70. Ela sabia tudo de discoteque, mas o que eu mais gostava mesmo era da "hora da lenta". Quem não se lembra do baile ficando escuro, formando aquele bolo de gente no meio do salão para dançar agarradinho? Essa era a hora da lenta ou vulgarmente chamada de "hora do mela cueca".
Dançavamos feito uns loucos, suávamos e na última música agitada para o início da lenta era uma correria só para o banheiro. Tinhamos que secar o suor e, finalmente, tirar para dançar "aquela mina" que olhamos todo o início da noite. Se rolasse não tinha mais dança. Era cantão. Se não rolasse, tentávamos outra, e outra e outra, até que acabava a lenta e iamos para o salão dançar. Feito uns loucos!
Glória estava super fora do meu padrão, confesso que não sabia o que fazer com tanta mulher na minha mão. Não sabia o que falar, como conversar e, ainda assim, ela "me aturou" por um bom tempo. Penso que ela achava que, uma hora, ia acontecer alguma coisa. Não aconteceu. E acabamos.
Por um longo tempo eu gritava que ia sobreviver.

Até os dias de hoje eu conheci mulheres maravilhosamente especiais e precisaria de muito mais que parcas linhas para falar de uma a uma. Seriam um livros fantásticos sobre pessoas fantásticas.
Amei cada uma a meu jeito. Por umas compreendido por outras taxado de anormal, mas por todas amado profundamente e sou imensamente grato por isso, pois que a cada uma melhorei, cresci, fui além de mim mesmo. Elas fizeram homem o homem que somente uma mulher pariu e ensinou a amar as mulheres (Serge Gainsbourg?! De modo algum, senhoras). Carinho... Carinho...

Porém, nenhuma é páreo o meu único e verdadeiro amor (my one and only love?), Eleanor.
Eleanor tem uma história de vida bastante triste, mas é daquelas histórias com final feliz.
Ele cresceu em um prostíbulo vendo sua mãe ganhar o sustento cedendo seu corpo a várias espécies de homens. Certo dia, entendendo que aquele seria seu caminho natural, pediu ao dono do prostíbulo para deixar de ser faxineira lá e passasse a servir a homens com seu corpo. Só que ele a achava muito feia.
Querendo ajudar, mas sem saber o que fazer, sugeriu que ela tentasse cantar na banda do bordel. Era um serviço melhor que limpar chão e ela ganharia um pouco mais.
Não demorou muito para que a simples Eleanor assumisse seu nome completo Eleanor Fagan Gough e virasse um requisitada cantora da noite.
Gente do céu! Já briguei muito com namorada por causa da Lady Day, afinal, por favor, Eleanor Fagan Gough era a minha pequena Billie, aliás senhora Billie Holiday para vocês!

E entendam:
Eunice Kathleen Waymon foi, sim especial, mas como Nina Simone não seria especial para alguém que ama jazz?
Jane? Foi sem igual! Ella Jane Fitzgerald me encanta até hoje e realmente ainda sou apaixonado por seu sorriso timido.
E Gloria Fowles? Eu ainda prefiro Gloria Gaynor, acho que esse nome é sem igualm as igualmente acho que não é mulher para mim *sorriso*.

Meninas! As amo do fundo do meu coração!

Aderlei Ferreira
8612122

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